sexta-feira, março 06, 2009
Gente de têmpera
A Wyeth Pharmaceuticals foi condenada na Quarta-feira a pagar uma indemnização de quase 7 milhões de dólares a uma pianista, Diana Levine, que se injectara no braço com Phenergan anti-náusea.
A injecção atingiu uma artéria, provocando uma gangrena cujas complicações ulteriores levariam à amputação do braço. O medicamento estava e está devidamente legalizado nos Estados Unidos, mas o Supremo Tribunal considerou que o folheto informativo não alertava suficientemente para o risco de um tal acidente.
Diana Levine continua a tocar piano, mas agora a uma só mão.
Uma história semelhante ocorreu com Paul Wittgenstein, o irmão mais velho de Ludwig, o filósofo. Paul era também um pianista em início de carreira quando partiu para a guerra de 14-18. Levou com um tiro no braço direito que acabaria por ser amputado, mas decidiu que havia de continuar a tocar piano.
Inventou uma técnica própria, aliando a sua extrema agilidade esquerdina a uma especial utilização dos pedais, o que lhe permitia tocar uma peça de Chopin para gáudio de auditórios admirativos. Mais tarde viria a encomendar composições de piano para mão esquerda a Hindemith, Prokofief, Briten, Strauss e Ravel.
Paul não pediu 7 milhões a ninguém (mas também não precisava, pois herdou uma fortuna colossal, a que o Ludwig renunciou). Eram outros tempos, mas era gente de têmpera.
Está tudo contado naquele livro da foto. Achei-o fascinante, mas hesito em recomendá-lo a almas sensíveis.
douro
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