quarta-feira, março 18, 2009

ALEGRIAS

Deparei hoje no Público com um título que deveras me surpreendeu: “Manuel Alegre propõe medidas políticas concretas para combater a crise”. Isto parecia-me uma novidade inesperada. Manuel Alegre a propor medidas, para combater a crise e, ainda por cima, concretas?
Como seria de esperar durou pouco a minha festa. Bastou ler a notícia. Não sei se alguém disse ao jornalista que as medidas eram concretas, não o sendo, e este acreditou ou se foi ele próprio que na sua ingenuidade considerou medidas concretas um conjunto de ideias estafadas e inequivocamente abstractas. A minha tese é outra: o jornalista quis fazer uma grande maldade ao Manuel Alegre.
Do que não tenho dúvida é de que o título é ferozmente enganador.
Quais seriam, então, as medidas "concretas" de Alegre?
Alegre acha que para combater as causas estruturais da pobreza e das desigualdades é necessária uma nova estratégia de desenvolvimento e um novo contrato social. Posso até concordar com Alegre, mas o que é que isto quer dizer?
Alegre pensa ainda que o Estado não deve entregar a privados sectores económicos rentáveis, nomeadamente na área da energia. Não sei o que é que este pensamento representa em termos de combate à crise mas julguei, uma vez que se tratava de medidas concretas, que Alegre vinha propor a nacionalização da EDP e da Galp. Afinal, Alegre não explica (ou concretiza) como reforçaria o papel do Estado na área das energias.
Diz ainda Alegre que o direito à água é hoje reconhecido como um direito humano e que a exploração dos recursos hídricos nacionais tem de incorporar esse direito. Alegre não acha relevante concretizar um pouco mais os termos em que isto deveria suceder.
Alegre quer também que sejam definidas, embora não por ele com certeza, políticas públicas para as cidades e zonas urbanas, que incluam o transporte, a habitação, o património, a cultura, o ambiente, o espaço público e a participação cívica. Neste ponto não podia estar mais de acordo, mas continuo sem vislumbrar a concretização da coisa.
A lista de medidas prossegue e parece interminável, o que saúdo, mas sendo todas do mesmo género não preciso de me alongar mais para provar o meu ponto: aquilo que Alegre, ou o jornalista, considera medidas concretas para combater a crise não passa de um conjunto de opiniões sem nenhum conteúdo político prático, ao contrário do que indiciava o título, sem novidade e sem utilidade alguma em termos de combate à crise. As divagações de Manuel Alegre podem ser muita coisa mas o que não são é medidas concretas para combater a crise.

2 comentários:

  1. douro disse:
    É como diz, Bernardo, uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.

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  2. Francamente! a querer saber as "medidas" do Alegre.... isso não se pergunta! olhe que eu tenho este blogue classificado para maiores de 10!
    Se formos "medir" em função do saco de ventania posso garantir que se resume ao peso do invólucro! Isto sim, seria uma medida concreta!
    Palhaçadas entre políticos e jornalistas

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