Equívoco porque pretendia ser um partido socialista de centro-direita. Assim, nem era um partido socialista, nem era verdadeiramente um partido de centro direita. Com grave prejuízo da verdadeira alternância democrática.
Creio que Sá Carneiro o teria percebido, e talvez por isso tenha apostado tão fortemente na AD. Também creio que Cavaco não o compreendeu; porventura, terá pensado que a sua enorme ambição e, admito, ainda maior convicção na sua própria seriedade e nas oportunidades da adesão à UE, seriam suficientes para afirmar o PSD como a principal alternativa à direita. Os resultados estão à vista.
Nem Cavaco conseguiu evitar a queda do PSD na venalidade, nem o PSD conseguiu escapar às tentações do "centrão": muita influência política, muito centralismo, ainda mais negócio económico (como agora se começa a denunciar, com exemplos, aliás, muito pouco abonatórios de figuras da maior responsabilidade); nem socialismo, nem centro-direita; apenas negócios, de poder e dos outros.
Não admira, por isso mesmo, que o PSD tenha hoje as dificuldades que se conhecem. É que à falta de ideias, apenas se poderia opor um líder forte. Mas um líder forte, depende de ideias fortes (Sá Carneiro) ou de ambições/convicções ainda mais fortes (Cavaco). O mesmo se diga pela negativa: no primeiro caso, Rebelo de Sousa (ideias fortes, sem liderança forte), e no segundo, Durão Barroso (imagem de liderança, sem ideias).
Estando hoje patentes quer, em primeiro lugar, o cansaço do País com o centrão, quer, depois, com a ausência de ideias do PSD, quer, ainda, com a falta de líderes fortes, quer, finalmente, a satisfação de um certo centro-direita com a governação de Sócrates, parece oportuno equacionar as oportunidades que este estado de coisas possa representar para o centro-direita.
Parece-me claro que esta é uma oportunidade irrepetível para o CDS. O seu crescimento, à custa da indefinição do PSD, permitiria a clarificação do espectro político nacional: um partido forte no centro esquerda, o PS, e outro forte no centro-direita, o CDS, ficando ao PSD o papel dos liberais na Alemanha. O País ganharia com isso. Porém, o CDS tem um obstáculo maior, interno: o percurso passado do seu líder: desde logo por causa do passado no Independente, depois por causa da indiferenciação nos governos Barroso e Lopes; mas sobretudo por causa do percurso errático que ou protagonizou (ao nível do discurso político) ou aceitou (enquanto líder não assumido, durante o consulado de Ribeiro e Castro).
Assim, o CDS tem beneficiado da indefinição do PSD para se afirmar, mas não tem podido capitalizar essa afirmação através da captação de votos e da conquista de espaço político.
Por outro lado, Paulo Portas goza de uma ambição que toda a gente lhe reconhece. Tem sabido, apesar de tudo, preservar uma parte significativa da sua imagem. Falta-lhe, creio, finalmente assumir uma visão ideológicamente consequente. Passar das tácticas e das estratégias, em que é mestre apesar dos revezes da fortuna, para a defesa e promoção de uma visão nacional. Maior do que o CDS e claramente alternativa do centrão. Tem dado sinais nesse sentido, através da reafirmação do ideário da democracia-cristã. Conquanto esses sinais não sejam um mero estratagema para facilitar uma eventual aliança pós-eleitoral com o PS, e signifiquem outrossim que Paulo Portas irá, no próximo congresso do Partido, assumir finalmente a sua visão para o País, pode ser que esta oportunidade se venha ainda a materializar.
De qualquer dos modos, há quem tenha percebido claramente esta oportunidade. Ao centro, o novo partido de Rui Marques, o MEP. No centro-direita, isto é, no próprio CDS, quem esteja farto das inconsequências dos últimos anos, do tacticismo da governança interna do partido e da falta de consistência das suas propostas, e começa finalmente a assumir as suas responsabilidades, dando a cara por diferentes formas de promover a democracia-cristã. Com a vantagem de, pela primeira vez, o anterior líder do partido não o ter abandonado. Assim possa, Paulo Portas, convencer as outras figuras maiores da democracia-cristã, como Maria José Nogueira Pinto e Miguel Anacoreta Correia, de que esta é, finalmente, a oportunidade do CDS se afirmar definitivamente. Sob pena de Paulo Portas chegar ao poder e o CDS nunca se afirmar como a verdadeira alternância democrática. O que seria pouco. E mau para o País.
Paulo Portas não é futuro para ninguém... só me espanta que uma pessoa que tenho por inteligente, como o senhor, ainda não o tenha percebido...
ResponderEliminarO CDS terá esse potencial, mas Portas e a corja que anda com ele já não têm credibilidade nenhuma para Portugal. Falam e ninguém os ouve, aparecem e ninguém os vê... é triste mas é verdade...