Mas há outros aspectos muito interessantes, nesta estória. Para já, demonstra uma incapacidade para compreender as qualidades que se exigem a um líder em democracia. De facto, toda a gente concordará que é mais fácil impor reformas em regimes autoritários; o problema é que as reformas não resultam só porque são impostas. Ou são interiorizadas pelos seus destinatários ou, à primeira oportunidade, revertem completamente, muitas vezes conservando os piores aspectos da reforma e nem sequer recuperando os melhores da situação anterior.
E é essa uma grande vantagem da democracia. Neste regime, será muito mais difícil promover reformas, pois isso implica sensibilizar os destinatários da reforma para a bondade desta. Quer dizer, em democracia as reformas raramente podem ser impostas. Elas têm de ser propostas, merecer o apoio sufragado da maioria - que é como quem diz, conquistar legitimidade - e depois ser suficientemente explicadas, promovidas e publicitadas junto dos seus destinatários. Caso contrário, não acontecem. Como se viu, ou está a ver, no caso da avaliação dos professores.
O governo terá acreditado que "tinha" de impor a reforma. Por boas razões, certamente, a menor das quais não será a irresponsabilidade corporativa dos sindicatos dos professores, politicamente motivada, como todos bem sabemos. Porém, como tem ficado demonstrado à saciedade, as reformas não se impõem assim. Veremos agora se o governo, e sobretudo o Primeiro Ministro Sócrates, serão capazes de encontrar alguma solução de recurso que não hipoteque definitivamente a possibilidade do País recuperar alguma qualidade para o ensino público. Caso contrário, Portugal será ingovernável na actual configuração do regime - o que não é sequer caso novo, na história da democracia do País.
E daqui decorrem as semelhanças entre MFL e José Sócrates. O tipo de liderança que o último encorpora e a primeira pretende representar, não são adequados ao sistema democrático. Causam tensão, provocam conflito e, a julgar pela avaliação dos professores, nem sequer são capazes de promover reformas.
A prova, caros e pacientes leitores, está na administração pública. Esta, não é uma democracia. Nunca foi, não foi desenhada para isso (a não ser os institutos e autoridades independentes que por aí se multiplicaram para desempenhar funções que deviam ser, conforme os caso, ora parlamentares, ora adminstrativas), nem sequer foi adequadamente adaptada, após a revolução. Mas, aí, o Estado vai conseguindo impor "reformas"; veja-se o caso da reforma orçamental promovida nos últimos anos. À custa de congelamentos salariais, de progressão nas carreiras e de regimes de avaliação em tudo semelhantes ao dos professores; apesar das manifestações. Quando não, esvaziava-se a adminstração das suas competências. Aí, o governo impõe e os funcionários obedecem. Como é de lei. E apenas porque os funcionários não tem poder reivindicativo para conquistar o apoio da "rua".
Que é exactamente onde as lideranças têm de estar adaptadas à democracia. E é, igualmente, onde os professores estão a ganhar a batalha.
É possível um Portugal melhor. Basta querer. (Ainda que seja preciso querer outras, e outro tipo de, lideranças)
Bem observado, meu caro.
ResponderEliminarA propósito: eu não concordo com este modelo de democracia! Logo, ou se auto-suspende ou então...
É ridículo quando verificamos o mecanismo que subjaz ao ultimato lançado pela FENPROF: ou se suspende um acordo assinado de boa fé (por ambas as partes, presume-se) ou haverá «diálogo nas ruas»!...
Isto é a arruaça institucionalizada, é a chantagem mais primária, a mais idiota forma de fazer política.
Se o governo recua e SUSPENDE o acordo firmado, dirão logo:
«O Governo retractou-se!»
«O Governo recuou!»
«O Governo teve medo!»
«O governo está de cócoras perante os professores!»
«A ministra anda a reboque da FENPROF!»
E toda uma série de situações jocosas poderiam surgir. É de uma gritande falta de sentido de Estado (os sindicatos também o devem ter!), é de um oportunismo tão selvagem, de uma apologia da política de «terra queimada» a fazer lembrar o PREC (neste caso englobando ingénuos úteis de vários quadrantes), que tresanda!
Se o governo aceitar algumas medidas correctivas, corrigir no modelo actual algumas falhas só agora detectadas, minorando o desconforto gerado, que fará a FENPROF?
Só há um objectivo: RUA!
Mostrar nas manifs o caudal de energia e de potencial mobilizador que é capaz de protagonizar! Enfim, só quer PROTAGONISMO!
Quem quiser ir ao fundo da questão só poderá chegar a esta conclusão.
A LUTA CONTINUA, PAROLOS PARA A RUA!
And now, for somethig completelly... normal:
ResponderEliminarFreamunde aplica 3.ª derrota consecutiva ao Boavista
O Boavista averbou hoje, em Freamunde, a terceira derrota consecutiva na Liga Vitalis, ao perder por 2-0 frente a uma equipa que já não vencia desde 20 de Setembro, em jogo antecipado da nona jornada.