terça-feira, novembro 04, 2008

Miguel Cadilhe no seu labirinto

Apresentado em diversas circunstâncias e por diversas vezes como uma espécie de reserva de moral, eficácia e elevação do 'modus operandi' do Norte, o ex-ministro (entre uma catrevada de muitos outros ex) Miguel Cadilhe continua, neste período de nacionalizações da banca, a circun-navegar em torno do seu umbigo centrífugo. A nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN), afirmou ontem em conferência de Imprensa, é uma medida política com que não pode estar de acordo, e causa da ineficiência da supervisão do Banco de Portugal. Como se o(s) verdeiro(s) culpados não fossem o(s) administrador(es) liderados por Oliveira e Costa - um ex-colega de Cadilhe nas andanças social-democratas de governos pretéritos. Sobre este senhor em particular, Cadilhe estende um manto de silêncio, como se não existisse um historial de bandalheira, ineficiência e compadrio por detrás da instituição. Ou seja, para Cadilhe, a culpa de cada roubo ou de cada assassínio não é de quem o comete, mas da polícia - que não prendeu o meliante antes do acto. Uma concepção bondosa, é possível, mas irreal e impraticável. No fim, Cadilhe mantém o registo que quis construir para si próprio ao longo dos anos mais recentes: Portugal só será um país a sério se levar muito a sério aquilo que o seu douto cérebro elocubra. Foi assim enquanto presidente da API, e continua agora enquanto ex-presidente do BPN - instituição que ia salvar, está-se mesmo a ver, se não fosse a maldade dos governantes, do Banco de Portugal, dos pares que apoiaram a medida e, num sentido mais lato, dos portugueses que teimam em não aprender a apreender o volume das suas palavras. Não se percebe.

8 comentários:

  1. "Sobre este senhor em particular, Cadilhe estende um manto de silêncio, como se não existisse um historial de bandalheira, ineficiência e compadrio por detrás da instituição."

    Desculpe, mas creio que estará enganado. Miguel Cadilhe apresentou, que se saiba, uma queixa crime contra a administração presidida por Oliveira e Costa.

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  2. Exmo. Rui a.: Sabe contra quem é que há queixas-crime? Eu não sei! E.N.

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  3. Independentemente das outras considerações, o facto (evidente para quem viu a conferência de imprensa completa, e não apenas os excertos destacados nas TVs) é que foram explicitamente referidos os erros anteriores do próprio banco.

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  4. O Ernesto não deve ter ouvido a conferência de imprensa, porque aquilo que diz que Cadilhe não disse, Cadilhe disse, de facto.
    Cumprimentos
    L

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  5. O Serna deve ter umas contas atrasadas com o Cadilhe, para vir ladrar dessa maneira às canelas do homem. A verdade é que o Cadilhe fez o que outros não fizeram, auditorias que puseram a nù o desvario dos que là estiveram. Goste-se ou não da personagem, o Cadilhe não é um aparatchik do regime e fala com os dentes todos. Se calhar é isso que lhe provoca tanta sarna, Ernesto.

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  6. O que Cadilhe disse foi que o banco errou em anos anteriores. O que Cadilhe não disse foi o nome de quem errou. 'O banco', neste caso, é uma entidade abstrata - não importa nada ser isolado como 'a coisa' que está por detrás do erro. Não é 'o banco' que está por detrás do erro. Cadilhe fez bem em falar com as autoridades sobre eventuais crimes cometidos dentro do banco. Mas fica a ideia clara de que o fez para não sair maculado da balbúrdia que foi encontrar - que será de maior peso que o que estava à espera (senão nem teria chegado a pôr os pés na instituição). Por último, não compreendo porque é que se pode pensar que alguma coisa me move contra o Miguel Cadilhe: mas quem sou eu para alguma coisa me mover contra o senhor??! E.S.

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  7. "Sabe contra quem é que há queixas-crime? Eu não sei!"

    Pois não sabe, nem tem que saber. Essas coisas, nos estados de direito, estão habitualmente a coberto do segredo de justiça. Veja lá a maçada!

    RA

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  8. Tem razão: é de facto uma maçada. Mas os Estados de direito têm estas coisas... O problema é nós concordarmos com as tretas todas que os estados de direito nos 'vendem'. E.S.

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