quarta-feira, setembro 17, 2008

Porque é que a AIG é diferente do Lehman

A informação ainda é escassa, o que não permite tirar conclusões definitivas. No entanto, algumas coisas são já claras.

Desde logo, verificamos que o comportamento das autoridades foi diferente nos dois casos referidos em título. Isso implica que tenham avaliado diversamente as duas situações. Porquê?

A resposta óbvia é, porque os dois casos comportam diferentes níveis de risco para o sistema. Diga-se de passagem que a única razão para justificar a intervenção das autoridades é, em última análise, a protecção do sistema (o mercado, em primeiro lugar, o universo dos clientes - pequenos sobretudo - e finalmente o público em geral - o tal problema das expectativas...). É claro que todos os crentes do centralismo, neste caso económico, encontrarão muitas outras razões para as autoridades intervirem, mas dessas não cuido aqui e agora.

Ora, o risco do sistema vêm sobretudo das consequências que uma falência pode ter para os parceiros comerciais da entidade a falir. Porque isso significa um efeito "dominó" que, em certas circunstâncias, se pode transformar numa vaga.

Por outro lado, as autoridades ao ponderarem a necessidade de intervenção e os riscos que a justificam, tem necessariamente de sopesar o perigo de exagerarem na sua actuação e desse modo protegerem os accionistas e as instituições de riscos que elas voluntariamente correram - sob pena de cairmos na tal "privatização do lucro e socialização do risco".

Quanto a mim, foi precisamente essa a fronteira que as autoridades americanas delinearam entre estas duas decisões: a não intervenção no caso Lehman e a intervenção no caso AIG. No primeiro, consideraram que os riscos para o sistema não eram suficientes para justificar uma protecção generosa dos accionistas e da instituição; serão estes a pagar os custos do regabofe em que viveram recentemente. Já no segundo, as autoridades consideraram que os riscos para o sistema justificavam uma intervenção. Ao que parece, essa intervenção será feita em tais moldes que os accionistas pagarão o essencial - podendo ir até ao desaparecimento da instituição - esperando-se que os activos sejam suficientes para garantir os empréstimos temporários (bridge loans).

E aqui é que está o verdadeiro busílis da questão. A ver vamos.

Entretanto e pelo menos, assim acalmam-se as expectativas (como os mercados já indiciaram). Se o problema se materializar, será por causa da economia; não serão as expectativas a provocar a queda da economia. É isso que se pede às autoridades.

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