sexta-feira, setembro 12, 2008

Criminalidade

Muito se tem falado sobre criminalidade. Parece que, de repente, o País ficou mais inseguro e mais violento. A mim parece-me, pelo contrário, que o actual clima de criminalidade vistosa é uma consequência evidente da falta de planeamento das nossas cidades e seus arredores, e de ordenamento do território, conjugadas obviamente com a lentidão - para não dizer pior - do nosso sistema judicial.

Não tenho dúvidas que os guetos que fomos criando à volta das nossas principais cidades, a que acrescem as dificuldades de encontrar vias profissionais decentes associadas aos maus resultados do sistema educativo, são verdadeiros alfobres da criminalidade, justamente porque essas vias marginais acabam por aparecer como a única alternativa possível para milhares de jovens que ambicionam aceder a uma vida moderna.

A forma cega como as nossas elites foram promovendo as cidades, melhor, os modelos de cidades que servem os seus propósitos cleptocráticos e nepóticos, desequilibraram o País de formas que são claramente bem sumariadas quando se verifica que Portugal se tornou num dos países europeus em que a desigualdade social mais se agrava, aproximando-se de níveis terceiro mundistas (e pior, nalguns casos).

Sem prejuízo da necessidade de se melhorar as condições e a actuação das forças de segurança, creio que é nas condições de vida desses bairros que se há-de encontrar as respostas necessárias ao verdadeiro combate à criminalidade: o da eliminação das suas causas. São necessárias cidades e bairros mais humanos, mais integrados e integradores. Creio que o caminho para lá chegar passa pela reorganização descentralizante dessas cidades e desses bairros. Por exemplo, no caso da capital, é preciso concebê-la como uma cidade "poli-nucleada", dotada de tantos centralismos quantos os necessários para permitir à grande maioria dos cidadãos uma vida com mais qualidade (menos tempo em deslocações, melhores transportes públicos, mais tempo para descanso, maior proximidade das soluções - escolas, esquadras, juízos de paz e 'front office' do Estado - e mais responsabilidade pelas soluções, etc. etc). Se isso for feito, muitas das soluções que agora parecem impossíveis, surgirão naturalmente, resultado da própria responsabilização dos cidadãos.

É possível um Portugal melhor. Basta querer.

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