Meu caro João, não concordo contigo sobre a comunicação ao país do Presidente.
Ele veio alertar para duas coisas:
1) a nova lei era um golpe de estado
2) os deputados não viram o que estavam a fazer (o Tribunal Constituicional chumbou 8 das 11 normas) e além do mais não o ouviram quando em privado os alertou para isso.
Vai daí puxou-lhes as orelhas em público e mostrou ao povo o que ele anda a fazer com o seu voto. Ou seja na linha das comunicações que tem vindo a fazer.
E depois foi de férias.
Meu caro,
ResponderEliminarO problema não é esse. Não é a questão do estatuto da Região Autónoma dos Açores (embora aí também me pareça excessivo afirmar que obrigar o Presidente a ouvir mais uma entidade antes de dissolver a Assembleia, se possa considerar um golpe de estado constitucional. É apenas um dislate absurdo) que merece censura ao Presidente. É a forma.
Não custava absolutamente nada o Presidente da república dirigir uma comunicação insitucional à AR a dizer o que tinha a dizer e, a seguir, comunicar ao país a sua posição. Não custava nada (antes se impunha) dizer, na véspera: "amanhã, Sua Ex.ª o senhor Presidente da República fará ao país uma importante comunicação sobre o estatuto da Região Autónoma dos Açores".
Em vez disso, Cavco Silva, deliberadamente, deliberadamente -insisto, para não me redarguirem que foram os jornalistas que fizeram a coisa - criou uma extraordinária e demencial expectativa em torno, anunciando uma comunicação absolutamente crucial para a vida do país, deixando os portugueses na esperança e no temor que estivessemos perante um momento fulcral da vida do país, daqueles momentos únicos, em que a História inflecte o seu sentido. Admitiram que pudesse anunciar-se um governo de salvação nacional; admitiram que pudesse comunicar-se uma doença grave que impusesse a renúncia presidencial; admitiram a revelação de um facto grave e de consequências extremas para a vida comunitária. Em vez disso, saiu-lhes uma comunicação que, tendo a importância que tem, não justificava o secretismo que a antecedeu, nem o aparato e a urgência da interrupção de férias, nem a excepção da escolha presidencial de se dirigir directamente ao povo, em vez de aos seus representantes na AR.
Mais do que enganados, os portugueses sentiram que havia uma anormalidade psiquiátrica na comunicação presidencial, que Cavaco Silva já não é capaz de viver sem um tabu de vez em quando, que o tabu se tornou para ele uma obsessão e uma mania.
Acredite! Este incidente não foi gratuito. Cavaco vai pagá-lo bem caro.