Manuela Ferreira Leite tem sido muito criticada por estar calada. Não percebo os críticos, pois o facto não traz nada de novo uma vez que foi este imenso talento que lhe deu um ar respeitável e, por conseguinte, o lugar que hoje ocupa. De resto, não acho que o silêncio só por si seja um grande mal no que à liderança de um partido político diz respeito. O importante é ser-se ouvido quando se fala. Noutros partidos, mais pequenos, fala-se muito porque é preciso lembrar que existem. O povo, que ocasionalmente é sábio, diz que quem muito fala pouco acerta. Parece, portanto, que o povo prefere os calados. Eu, de vez em quando, também.
Tudo isto para dizer que fiquei um pouco surpreendido com as recentes declarações de Paulo Portas sobre a publicidade ao crédito.
Bem sei que estamos em plena silly season, mas ainda assim nunca pensei ver o CDS, cujo percurso e posicionamento ideológico todos conhecemos, a defender teses estatistas e colectivistas. Se bem percebi, os bancos deveriam ser impedidos de fazer campanhas publicitárias a promover a concessão de crédito. Porquê? Porque os cidadãos, incautos, deixam-se seduzir pela publicidade e contraem empréstimos que não podem pagar. Esta ideia tem diversos vícios. Ou as campanhas publicitárias a que se aludia são enganosas, caso em que a lei deve ser aplicada, ou não violam preceito algum pelo que não se vê que haja motivo para as limitar. A concessão de crédito há séculos que constitui uma actividade normal, e até essencial, dos bancos. Os bancos existem, fundamentalmente, para receber depósitos e emprestar dinheiro. Vedar ou limitar essa actividade apenas pelo simples facto de os cidadãos a utilizarem muito é difícil de aceitar numa economia livre.
Por outro lado, porque é que só os bancos é que hão-de penar? Porque não os fabricantes de automóveis, de plasmas ou de consolas? Também eles não deveriam ser punidos por promoverem o consumo de bens que os cidadãos querem adquirir? E, já agora, pelo mesmo motivo não se deveria proibir os comerciantes de fazerem saldos?
Atribuir a culpa pelo endividamento das famílias aos bancos pode ser popular mas é demagógico e irresponsável. Ajuda mesmo a agravar o problema, pois desculpa-nos a todos individualmente e culpa a perversa banca. Se a culpa não é minha é dos outros, não há razão para eu alterar nada. Esta visão não contribui para a formação de uma sociedade livre, responsável, personalista e equilibrada. Não é de desculpas que Portugal precisa, é de iniciativa e responsabilidade.
Totalmente de acordo, D. Bernardo.
ResponderEliminarMeu caro:
ResponderEliminarPortas tem razão! Os excessos, neste e noutros domínios, atingem as raias da patologia!
Há que atentar no ditado: o que é demais é erro!
Alguém sabe quando e onde (que não na Almedina) estará disponível para leitura o "parecer" do Tio Diogo, isto é, o seu hara-kiri?
ResponderEliminarJá não lhe bastava ter sido ministro de um governo xuxa...