quinta-feira, fevereiro 14, 2008

O problema do PP

Não se tem falado do CDS no Nortadas, por várias razões. Primeiro porque o nosso Diogo Feyo tem feito um excelente trabalho à frente da bancada parlamentar do partido. Depois, e mais importante, por causa de Paulo Portas.

Para o bem e para o mal, o actual CDS é sobretudo um filho de Paulo Portas. Seria portanto natural que ele fosse o líder indiscutível do CDS. Acontece que essa indiscutibilidade se tem traduzido, pelo menos no Nortadas, por um silêncio ensurdecedor.

Em parte, esse silêncio será explicado por tudo o que aconteceu no período em que o CDS esteve entregue a Ribeiro e Castro. Muitos dos apoiantes deste último não querem agora cair no erro que tanto criticaram aos apoiantes de Paulo Portas.

Creio, no entanto, que para a grande maioria o silêncio se prende com outras razões mais profundas e mais sérias.

Desde logo, o CDS de Paulo Portas perdeu a sua "virgindade" por ter feito parte dos dois governos de coligação com o PSD. E perdeu-a porque se criou a ideia de que, afinal, o CDS era igual aos outros - leia-se o centrão. De facto, infelizmente, muito do que o CDS fez de bom enquanto esteve no Governo, ficou completamente esquecido face ao muito de mau que aqueles dois governos produziram; a começar pelo abandono de Durão Barroso e a acabar no desgoverno de Santana Lopes. Essa confusão de imagens custou caro ao partido nas eleições e pode até ter estado na origem da outra razão principal, a meu ver:

A passagem pelo Governo não trouxe ao CDS o crescimento em que tanto apostara Paulo Portas.

Se terá trazido alguma adaptação do seu eleitorado, que terá passado a ser um eleitorado mais urbanizado, mais culto, mais liberal, mais moderno, por outro lado trouxe uma necessidade de estar à altura de determinados padrões de participação na política que a oposição interna a Ribeiro e Castro desbaratou miseravelmente. Neste sentido, pelo menos, tem que se reconhecer que o Paulo Ferreira, no seu editorial do Público, toca numa ferida muito profunda... Já para não falar no poder da machadada final, consubstanciada nos acontecimentos que levaram ao abandono de Maria José Nogueira Pinto. Mesmo que não haja só inocentes nem só culpados de qualquer dos lados, uma imagem vale sempre mais que mil palavras. E aquelas imagens foram fortes...

Pior, porém, são as notícias que rodeiam a passagem de alguns indiscutíveis do CDS de Paulo Portas pelo Governo. Que, claramente, condicionam a credibilidade do actual CDS e destróem muita da capacidade de convencer que a actuação do CDS na oposição poderia ter.

Tudo somado, e admitindo de barato a inocência dos ministros do CDS, fica uma sensação a fel; o CDS perdeu muito com a passagem pelo Governo. Pior, Paulo Portas perdeu muito mais. Sobretudo porque o seu precipitado abandono da liderança, no rescaldo das eleições, e o ainda mais precipitado regresso, desgastaram a sua imagem de tal forma que se torna difícil compreender se a viagem terá regresso possível.

Assim sendo, as nós que nos sentimos CDS - e mesmo alguns que reconhecemos a legitimidade de Paulo Portas para dirigir o partido - resta-nos o silêncio... esperar para ver, parece ser uma atitude sensata. A não ser para quem pense já em alternativas. E mesmo para esses, certamente se há colocar a questão: alternativas a quê ou quem, para liderar o quê ou quando?

7 comentários:

  1. O problema do CDS é que sempre foi uma reserva moral da nação, pelo menos da Nação que acreditava numa forma de estar e de ser na política que não se coadunava com as jogadas e os tachos habituais do centrão...

    O problema do CDS, pegando na imagem do Ventanias, é que após "perder a virgindade", tornou-se numa autêntica puta...

    Da imagem de reserva moral da nação passou para a imagem dos putos à frente das empresas municipais a ganhar balúrdios com vinte e tal anos... dos sobreiros... dos submarinos... dos golpes de estado com porrada pelo meio... das escutas no "Sol" e dos negócios envolvendo o presidente do partido e o BES...

    enfim... parece daquelas teenagers que anda à deriva e que vai ter uma dificuldade do caraças para reencontrar a candura e dignidade que tinha... e vamos lá a ver se não descobre que, depois das borlas todas que deu, não descobre que afinal já ninguém a leva a sério....

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  2. isto para dizer que os que agora acham que devem estar calados, estão a contribuir para a desgraça do partido do qual se dizem militantes...

    não é preciso fazer as figuras tristes do Nuno Melo, Telmo Correia, João Almeida e comp. para se criticar, construtivamente, um partido...

    A discussão, se elevada, é sempre meritória...

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  3. .. e para legitimar o chefe

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  4. Falou-se em reserva moral e bem. A reserva de Alcochete para o empreendimento Portucale. A reserva de lugares a bordo de submarinos. A reserva federal de 1000000 de euros nas contas do partido. Este, quer vocês gostem ou não, é o PP.

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  5. O Ventanias diz coisas certas. Em abono da verdade, este PP até tem aparecido como a mais estruturada oposição ao governo Sócrates, talvez por demérito do PSD, talvez por mérito do Diogo Feyo, não sei. Mas o Ventanias esquece, na minha opinião, a questão central que gangrena este PP: o desnorte ideológico, a perda de uma matriz e a barafunda de um programa. Tudo o resto acontece por causa disso, são o resultado dessa falta de osso. E claro, com uma personagem como o Portas à frente das tropas, nunca passará de um exército mexicano a bracejar ao vento e a fazer umas graçolas.

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  6. Isto não está fácil.
    Infelizmente o Sócrates vai ter outro mandato de 4 anos sem se esforçar muito. A oposição é muito fraca.
    O CDS perdeu-se no tempo... e perdeu a mais-valia da "novidade" e da "diferença" com a passagem pelo governo. Ideologicamente vive ao sabor do vento e do mediatismo. Assim não vamos lá.

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  7. Infelizmente vejo-me forçado a concordar em grande parte com o que aqui se escreveu.

    Apesar de entender que a melhor e mais consistente oposição é feita pelo CDS (por mérito do Diogo Feyo, como dizia o Douro, mas, evidentemente, não só), o certo é que tudo sabe a pouco. O dilema a que aqui no Nortadas se tem fugido a discutir, julgo que por haver demasiados compromissos tomados com uma via que foi esmagadoramente rejeitada após um ano de liderança do CDS, é precisamente a questão da alternativa. Preciso de alguém melhor do que o que temos. Temo que precise de alguém muito melhor do que a maior parte dos "Nortadas" propõe.

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