A minha Princesa tem oito anos e o espírito livre de uma artista, tudo o que faz, faz à sua maneira. Com a sua particular visão do mundo, pinta-o com as cores mais fantásticas e irreverentes que se pode supor. Tenho, como todos os pais babados, centenas de desenhos que para mim valem mais que qualquer Van Gogh.
Há uns anos, comprei na feira de Vila Nova de Cerveira, um Presépio. Mais propriamente o menino Jesus, Maria, José e a vaca com o seu inseparável burro.
São umas grandes figuras em cerâmica aí com uns 20 cm, rudes, sem grandes acabamentos, provavelmente feitas por um artista local.
Durante anos estiveram esquecidos num armário, atrás de qualquer porcaria que não interessa para nada, sem qualquer utilidade que não fosse lembrar-me todos os anos por esta altura, que estava a ser muito pouco Católico para a Sagrada Família.
Resolvi arrumar o presépio que normalmente embeleza a minha morada nesta quadra natalícia, e desembrulhar as enormes figuras cor de telha.
Os olhos da minha pequena Viera da Silva reluziram como os de Picasso diante de uma tela branca.
Não passou muito tempo para a artista da casa estar de pincéis na mão retocando aquela Família que sofreu por nós.
S. José recebeu um enorme manto bordeaux, não me perguntem como, mas que está lá, está. Nossa Senhora, um bonito manto azul, e a cobrir-lhe a cabeça, um lenço branco. A vaca não tem que saber, é castanha como todas as outras que não são leiteiras. Já o burro, foge um bocado ao tradicional, sendo preto retinto, mais parecendo um puro-sangue árabe que um jumento.
No menino Jesus vê-se que a mão da artista não estava tão firme, provavelmente com a responsabilidade acrescida de Ele não ficar contente e retaliar nos presentes.
Mas no meio de todo este “trabalho” há um pormenor que é mais revolucionário que o Concílio Vaticano II, é o cabelo de S. José. Loiro.
Mais loiro que o mais loiro dos nossos pescadores da Póvoa. Mais parece um nórdico, um vinking de férias na Terra Santa.
Com os seus belos cabelos e barba loiros descendo pelo manto bordeaux, é um autêntico surfista do Médio Oriente.
Ainda sugeri algumas alterações na tonalidade capilar, mas a artista foi impenetrável.
E assim, no meio do meu Presépio, lá está uma cabeleira loira de fazer inveja a qualquer rapazola amante das ondas da Ericeira.
Um bom Natal para todos.
Em minha casa, os meus filhos fizeram questão de adicionar ao presépio elefantes, leões, girafas, uma cabra e cavalos. Afinal, no reino dos animais o Natal também é para todos e o burro e a vaca perderam o monopólio. Mas perderam MESMO os privilégios, porque aqui não há entidade reguladora.
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