Absolutamente imprescindível o artigo de opinião de Pedro Machado e Luís de Sousa, no Público de hoje, sobre a Ota e a qualidade do processo decisório em Portugal.
É que a denúncia ali feita não se aplica apenas a esse caso específico. Ela vai ao âmago da falta de qualidade da nossa democracia em geral e dos seus processos decisórios em particular.
Além de outras coisas, isso implica directamente com outro vício da nossa democracia, aliás já denunciado aqui abaixo, no post do Daniel Brás Marques sobre a "esquizofrenia eleitoral": "O tacticismo político funciona em circuito fechado, é uma gíria, uma linguagem cifrada e hermética, só perceptível por quem pertence ao meio." Este vício, concretamente, é muito alimentado pela falta de qualidade dos nossos jornalistas políticos que promovem o dito tacticismo a uma questão central dos combates eleitorais. Por exemplo quando procuram reconverter uma luta por uma câmara num qualquer jogo de xadrez político em que as vitórias seriam mais profundas ou significativas do que a mera resolução do que está em causa, isto é: os problemas da cidade, neste caso Lisboa.
Muito pelo contrário, a questão dos problemas da cidade deveria merecer toda a dignidade que uma eleição justifica: trata-se de eleger entre diferentes soluções para esses problemas. Isto é, uma eleição é uma peça fundamental da legitimação de "processos decisórios", na única condição de estarem em causa verdadeiras escolhas. Em Portugal, infelizmente, tende-se a confundir a escolha com a opção por pessoas ou partidos. A qualidade, consequentemente, não pode ser grande...
Por outro lado, a Nação começa a dar sinais de querer reagir - pelo menos na minha interpretação voluntariamente optimista das coisas. É essa a principal explicação do sucesso das candidaturas independentes e, simultaneamente, o principal significado da massificação da abstenção: as pessoas não estão satisfeitas. Querem mais. E melhor.
Os partidos políticos que o perceberem mais depressa serão certamente os que mais beneficiarão e que melhor se poderão posicionar para ajudar o País a dar o salto qualitativo de que necessita.
Esperemos que seja neste âmbito que o próximo Conselho Nacional do CDS analise estes resultados eleitorais. E que tire daí as devidas consequências, em particular no que respeita à irrelevância de uma certa forma de fazer política e dos seus protagonistas - refiro-me à grande maioria do actual grupo parlamentar do partido. Que sejam capazes de fazer autocrítica. Que Paulo Portas seja capaz de se desenvencilhar desse empecilho. A tempo.
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