quinta-feira, junho 21, 2007

Afinal, sempre é possível um Portugal melhor

Muito se tem debatido sobre as questões menores em torno do estudo encomendado pela CIP e as suas consequências. Falta de independência do poder económico face ao poder político (que surpresa!), falta de transparência dos processos decisórios de obras públicas de dimensão faraónica (e onde está a novidade?), parcialidade dos agentes dos relatórios que fundamentam e justificam essas decisões, ausência de debate sobre as consequências dessas escolhas, etc., etc.

Porém, quanto a mim, o facto mais relevante merece devido destaque: o monstro, i.e. NÓS, acordamos. Fica claro, daqui para a frente, que a Nação já não está disposta a continuar a aceitar impávida e serenamente as megalomanias deles. Por uma vez, a elite cumpriu o seu papel e deu voz ao Povo.

Todas as demais imperfeições que se possam apontar a este desenvolvimento, e todos os abusos que se possam esperar numa eventual euforia que daí possa resultar, não podem, não devem, nem conseguirão (espero), esconder esta verdade mais importante:

É (ainda) possível um Portugal melhor. Basta querer. (E manifestar essa vontade)

Como se viu. E continuará a ver.

8 comentários:

  1. Também tenho esperança num Portugal melhor. Mas ainda estou muito desconfiada da "esmola" dada ao Povo nesta história toda...

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  2. Cara Paula,

    A questão é não confundirmos a árvore com a floresta. Pode até ser que a esmola tenha chegado por caminhos ínvios; mas chegou. E isso permite que a eventual decisão tenha de ser, no mínimo, mais transparente.

    Essa é, quanto a mim, a grande vitória nesta matéria. Tanto mais quando se trata, inequívocamente, de uma vitória da "sociedade civil", contra toda a elite política...

    O meu receio, é que se desmoralize a "sociedade civil" por causa de eventuais imperfeições do processo. Em particular o que levou a CIP a decidir avançar (afastamento da A.Comercial do Porto, financiamento não transparente, etc.).

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  3. Mas parece que não, meu caro Ventanias, parece que afinal não estamos perante uma vitória de uma sociedade civil livre e independente, irreverente e sem medo dos poderes políticos.

    Parece que a verdade é que estamos afinal perante (mais) um caso de conluio entre uma parte sectária da sociedade civil e "as mais altas instâncias políticas" do país, como a própria CIP os apelidou, numa carta enviada à ACP, entretanto tornada pública.

    Sabe que às vezes sinto-me farto de me sentir desconfiado e por essa razão sinto-me tentado a acreditar em vitórias "retunbantes". Como era o caso desta, embora não me conseguisse nunca despir de alguma suspeita, que não conseguia exactamente concretizar. Digo-lhe só que me pareceu rápida de mais a reviravolta.

    Neste momento, embora não tenha evoluído muito na concretização das minhas desconfianças, face ao conluio que se sabe ter havido no processo em questão o mesmo já me cheira mal. Tem uma espécie de um cheiro próprio das casas que estão podres por dentro, embora pintadas de fresco por fora.

    Ainda assim, que se salve o prémio de consolação. Isto é, independentemente das razões e do método da escolha, a ser construído em Alcochete o aeroporto (o que não é de dar de barato) que ao menos esse seja o melhor dos locais.

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  4. Caro AFM,

    Algumas postas atrás, deixei aqui o que considerava ser o essencial do negócio entre a CIP e o Governo: a primeira não punha em causa a necessidade de um aeroporto novo (i.e., não "estudava" a Portela+1) e o segundo aceitava reponderar a Ota.

    Dito isto, porém, importa reter o seguinte.

    Nem eu nem V. somos ingénuos ao ponto de pensar que José Sócrates, admitindo que está de boa-fé, pode pura e simplesmente decidir não construir a Ota ou até fazer o aeroporto noutro qualquer local. Obviamente que há interesses significativos a pugnar para que a opção da Ota se mantenha. Suspeito que esses interesses não se situam apenas nos aparelhos partidários do centrão (onde estão representados de certeza e ao mais alto nível, seguramente). Creio que também se encontrarão entre muita da nossa elite económica e financeira (embora não tenha provas).

    Por outro lado, algo me diz que José Sócrates está de boa fé. Por isso terá querido encontrar uma entidade credível que promovesse um estudo sério que pudesse servir de pretexto para fazer recuar ou abrandar o processo da Ota. Tê-lo-á feito à sua maneira, terá procurado interlocutores que não insistissem em estudar a solução da Portela+1.

    Mas fê-lo. Por intervenção do PR, ou não, a verdade é que o fez.

    E, note-se, fê-lo aparentemente antes de Marques Mendes ter decidido que seriam necessárias eleições intercalares em Lisboa.

    Aceitando essa vontade do PM e reconhecendo o PODER da política em Portugal, a mim parece-me interessante sublinhar que foram as movimentações da sociedade civil que criaram o ambiente para que a decisão (esperar 6 meses) fizesse sentido. Como faz.

    Por outro lado, também não posso deixar de assinalar que não será apenas POR ACASO, que todas as imperfeições do processo do estudo da CIP são agora atacadas por todos os lados.

    Nada impedia a A. Comercial do Porto de se ter manifestado mais cedo. Inclusivé até de ter promovido estudos por sua iniciativa. Não quero retirar valor às posições que o seu Presidente agora tem assumido. Apenas quero salientar que esta redescoberta independência, nunca deveria ter estado em causa.

    Mas também não quero concluir daí que a CIP não tinha boas razões para aceitar o negócio com o Governo. Pelo menos numa perspectiva: o aeroporto em Alcochete será inevitavelmente mais barato. Portanto, libertará alguma capacidade de investimento para outras paragens. E isso não é de somenos.

    Termino como comecei. Felizmente, a Nação já não parece estar disposta a aceitar as decisões governamentais impávida e serena. E começa a encontrar interlocutores, fora do sistema partidário, com credibilidade para que as suas opiniões e intuições contém para alguma coisa.

    PS. Recorde-se que Durão Barroso foi eleito numa plataforma que incluía a congelação da Ota. E no entanto, o máximo que conseguiu foi não lançar o concurso internacional. De resto, alterou a configuração da região de Lisboa e Vale do Tejo para garantir maiores taxas de financiamento europeu para a Ota, manteve o projecto em cima da mesa e assegurou mesmo que haveria financiamento europeu. Até ver, Sócrates já aceitou fazer mais mal à Ota do que Barroso.

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  5. Caro Ventanias,

    Porque quero começar por onde concordo consigo, começo este comentário como acabei o anterior: "Ainda assim, que se salve o prémio de consolação. Isto é, independentemente das razões e do método da escolha, a ser construído em Alcochete o aeroporto (o que não é de dar de barato) que ao menos esse seja o melhor dos locais."

    Nisto parece-me que estamos de acordo.

    Parece-me ainda que partilhamos uma enorme vontade em termos uma sociedade civil forte, interveniente, se quiser, irreverente, e por essas características capaz de influenciar o exercício do poder, porque isso será um sinal de um país civilizado, no sentido mais moderno do conceito.

    Mas mais, penso que não é só você e eu que pensamos assim. Creio que o próprio PM também pensará de forma parecida.

    A prova disso é que perante uma cada vez mais dificil sustentação da opção Ota (mais por pressão política que de outra natureza) as mais "altas instâncias do país" "camuflaram-se" de sociedade civil para legitimar a mudança de registo e "contrataram" com a CIP um estudo "independente". E a CIP alinhou nisto.

    É justamente aqui que não estamos de acordo.

    Você viu na forma que o processo tomou um sinal de esperança, uma espécie de maioridade da "sociedade civil". Eu, pelo contrário, vi um sinal que tudo afinal está na mesma, porque esta coisa de independência não se compadece com encomendas de resultados.

    Quando muito, sendo mais coloquial, você viu a pneumonia a ficar curada. Eu só vi a febre a passar de 39 para 38 graus.

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  6. Tem razão, caro ACF, sou um optimista.

    Mas devo esclarecê-lo que sou optimista apenas porque QUERO ser.

    Esforço-me a isso, obrigo-me a isso, porque Portugal não acaba em nós. E eu quero morrer com a sensação que os meus netos hão-de poder dizer, pelo menos o Avô tentou.

    Por isso eu tento.

    Por isso eu vejo sinais onde porventura só existirão indícios.

    Mas também por isso me contento mais com o resultado do que com o método. Ainda que, por mim, esteja disposto a melhorar os próprios processos. Em última análise, redunda aí a minha crítica à A. Comercial do Porto. A independência não se proclama, pratica-se.

    Ainda assim, no meu registo optimista, mais vale tarde do que nunca...

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  7. Caro Ventanias,

    Acho que faz muito bem em ser optimista e até em fazer gala em sê-lo e deixe até que lhe diga que se me conhecesse sentir-se-ia acompanhado por mim nessa sua atitude.

    O que apesar disso não quero para mim é que o meu optimismo me turve o sentido da realidade, isto é, de tanto querer que os indícios sejam sinais, procurar encontrar os indícios nos sinais do contrário ao desejável.

    Tenho a certeza que os meus (e os seus) netos terão um Portugal tanto melhor quanto você, eu e uns outros tantos milhares mais nos concentrarmos em encontrar o que na realidade está mal. Não para que isso nos derrote mas antes para que possamos corrigir e exigir a excelência. E já agora para que ninguém espere que tenhamos o chapéu na mão quando nos entregam as esmolas.

    Quanto ao resultado, não farei novo copy/paste das minhas palavras. Acho que já as leu.

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  8. Caro ACF,

    Creio que já ficou tudo dito e que nos compreendemos bem. Há, no entanto, um ponto que quero sublinhar.

    "Para subir uma escada é necessário alcançar o primeiro degrau", ou algo muito semelhante reza um provérbio chinês. Eu também quero que o País chegue mais longe, mas isso não me impede de reconhecer as pequenas vitórias que criam condições para as outras, maiores, porque ambiciono.

    Foi nesse registo que me coloquei. Nós, portugueses, perdemos frequentemente muito tempo a salientar o que deveria ter sido. Penso que também é importante valorizar o que se vai conseguindo. Mesmo quando imperfeito.

    Neste mesmo registo, diria que é importante que exista quem sublinhe o que se conseguiu, como eu fiz, e quem registe o que se deveria ter conseguido, como fez.

    Bem haja.

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