Muito se tem dito e escrito sobre a questão da continuidade ou não do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
Compreendo e concordo que do ponto de vista legal o Presidente da CML é inocente até prova em contrario.
Compreendo e concordo que do ponto de vista legal o Presidente da CML é inocente até prova em contrario.
Porém, é mais do que evidente que do ponto de vista politico a única decisão possível é a demissão.
E, é isso e tão só isso que o mesmo deve avaliar.
Até posso perceber que o mesmo saiba e tenha a convicção de que é inocente mas em politica o decoro, a seriedade, a correcção... têm, tal como a mulher de César que parecer antes de o ser.
Maria José Nogueira Pinto deu disso bom testemunho enquanto vereadora mas também quando decidiu (por questões bem menores e bem diferentes) deixar o lugar de vereadora.
É deste tipo de exemplos (como o de Maria José Nogueira Pinto) que a politica portuguesa necessita para voltar a ter o prestigio e a credibilidade necessárias.
Nessa medida, não tenho a menor duvida que Carmona Rodrigues assinou a sua sentença de morte politica.
Faz-me lembrar um outro Engenheiro independente (não confundir com o da Independente), com um percurso de ascensão à presidência camarária similar que também prometia mas que acabou por se suicidar politicamente (o Engº Nuno Cardoso).
Será isto coincidência?
Será mal que afecta os Engenheiros?
ou será que é de serem independentes?
Seguramente que é por inúmeras razões mas também e principalmente pelo facto de serem independentes.
Passo a explicar,
O cargo de Presidente de Câmara - ainda para mais de Câmaras com dimensão como é o caso do Porto e Lisboa - é de enorme risco. São autenticos ninhos de víboras com questões complexas e por onde pululam centenas de pessoas com interesses pessoais e partidários.
É por isso essencial que a equipa seja da confiança quase cega do Presidente da CM.
Ora, quando o Presidente é independente e tem um partido que o apoia a equipa que tem não é totalmente da sua escolha mas sim em grande parte do partido.
Pelo que, na prática convém fazer parte do sistema, ou seja, de um partido cujo aparelho precisa de ser alimentado e na medida em que é alimentado também protege quem o alimenta.
Infelizmente, parece-me que é esta a realidade.
E que tanto Nuno Cardoso (independente/PS) como Carmona Rodrigues (independente/PSD) acabam por ser, em grande parte, vítimas do aparelhismo partidário (provavelmente Nuno Cardoso ainda se apercebeu e tentou "emendar a mão" filiando-se, mas já era tarde).
Ora, a meu ver estas situações devem-nos inquietar e convocam-nos a reflectir sobre os aparelhos partidários, a sua necessidade e forma de funcionamento,
sobre as efectivas e reais possibilidades de os independentes poderem aceder a lugares politicos e mais do que isso sobre a possibilidade de um independente eleito poder, na prática, exercer o seu mandato de forma independente.
Entendo que os aparelhos partidários, de uma maneira geral, são estruturas algo "maquiavélicas" por onde pululam algumas pessoas dotadas de poucos principios e valores, mesquinhas, sem grandes qualidades profissionais e que dependem da politica para viver.
E, da forma absurda como funcionam acabam por viver e sobreviver do caciquismo eleitoral interno e não da discussão de ideias, soluções, projectos.
Nesta matéria as juventudes partidárias são o melhor (pior) exemplo, diria mesmo, que se transformaram em autênticas fábricas de pequenos mas eficazes "caciques", soldadinhos do mal dizer, da intriga e da insidia mais vil e torpe.
Esta realidade é a meu ver hedionda e talvez seja uma das principais causas para que no fim do percurso sobejem "líderes",
que levam ao descrédito do sistema,
e à convicção generalizada de que o politico é alguém que só lá está para se servir e não para servir.
Impõe-se, por isso, uma reforma dos partidos e da sua forma de funcionamento mas também uma reforma da legislação para que um independente que se candidate e seja eleito enquanto tal, possa na prática também governar com total independência.
A bem da Nação!!!
Os dois exemplos que dá,são elucidativos quanto á forma como os aparelhos partidários,controlam horizontalmente a Administração Pública!
ResponderEliminarHá muito tempo que ao nivel da Comunicação Social,as fontes não passam de centrais organizadas,filtrando o que passa para o público e é, ou não, publicado!
Veja que estes casos que caíram agora no conhecimento público,tiveram ínicio nos tempos de Santana se não antes!
A mesma empresa que está no vértice de tudo isto,tem casos em Braga e no Porto,que muito ao de leve aparecem aqui e ali, timidamente,como á espera do momento oportuno.
Para haver independentes, com sucesso, só em listas de estrita confiança política,com pessoas tambem elas independentes.
Carmona vendeu o lugar, deixando-se aprisionar por um grupelho de carreiristas do PSD, que ninguem conhece e sem curriculum.
O que é extraordinário em tudo isto, é a rapidez e a facilidade com que se destrói autarcas eleitos!
Isto só é possível, sendo feito por gente com muito poder, com acesso a informações e documentos internos da CML e organizados para obter este resutado.
Mas, da mesma forma que fazem chegar estas coisas ao público, tambem impedem que outras, bem mais graves,vejam a luz do dia!
Não devemos ter ilusões quanto á inocência destas denúncias!
Concordo com grande parte da análise de FVF, designadamente com a crítica severa ao funcionamento dos aparelhos partidários. Eu sei, também por lá andei, vi como funcionava, ganhei alguns amigos (que mantenho) e perdi o respeito (ou noutros casos, não o ganhei) por pessoas com quem me cruzei. E no fim, saí.
ResponderEliminarSem mágoa, sem sensação de tempo perdido e, acima de tudo, sem dramatismos. De resto, não dei a algumas pessoas que apenas sabem viver no aquário de um aparelho partidário aquilo que mais gostariam de ter. Importância suficiente para os levar demasiado a sério.
Mas o repto que FVF lança, de reforma dos partidos com o objectivo de viabilizar governações de câmaras por independentes, embora desejável, é tudo menos linear.
Se por um lado é inadmissível que desqualificados em qualquer área profissional tenham um emprego assegurado em cargos políticos aos quais acedem por militância partidária, não é menos verdade que a um candidato independente seja, na prática, impossível aceder à liderança de uma Câmara. Vejam-se os exemplos dados, dos Engs. Carmona e Cardoso, que embora independentes apenas foram
eleitos por serem apoiados por partidos.
E os exemplos que me ocorrem de independentes que ganharam as Câmaras sem um partido a empurrar (Isaltino, Valentim, Fátima Felgueiras) só conseguiram tal feito após muitos anos de governação camarária integrados em listas de partidos, tempo em que se tornaram "indispensáveis" às respectivas câmaras, conseguindo a reeleição como quem se reelege em partido diferente do qual anteriormente se candidatou.
Isto ser assim não tem exclusivamente a ver com os partidos. Tem também a ver com todos nós, cidadãos, que nos habituamos a, de forma instintiva, procurar uma organização em quem votar e não só numa pessoa. E a consciência desse facto é também uma arma dos partidos.
Mas num plano mais amplo, o dos políticos vs. independentes, as coisas também não são só um mar de rosas. E os recentes episódios da CML demonstram isso mesmo. O problema de um independente que actualmente dirige aquela Câmara está em que esse seu estatuto fala demasiadamente mais alto que o de político. Na verdade, não admira que ele desvalorize a falta de condições políticas para continuar com o mandato, porque esse instinto de político ele não tem. E por isso dá-se ao luxo de pensar que a sua convicção de inocência (presumida e se calhar vardadeira) sobrepôe-se à derrocada do edifício político onde se encontra. A maçada está em que ele efectivamente exerce um cargo político e não pensar enquanto tal é amadorismo imperdoável.
Assim, mais do que criar condições de exercíio de poder por independentes, entendo que o grande desafio é o de criar condições nos partidos para que as pessoas de mérito se sintam impelidos a aderir, querer estar e avançar para cargos públicos.
É claro que isto implica um acto de contrição dos partidos, pois nunca como hoje estiveram tão longe de serem assim. E aqui é que começa a parte dificil.