quarta-feira, abril 04, 2007

Questões que o debate sobre a OTA não respondeu

Não é que o estudo do Prof. Eng.º Viegas tenha vindo demonstrar nada de definitivo. Mas vale a pena recapitular o que denúncia.

A Ota é uma decisão iniciada noutro tempo e continuada até ao nosso tempo.

Naquele tempo Portugal era uma ditadura, tinha províncias ultramarinas e não se envergonhava de estar orgulhosamente só. Será que nada mudou?

Naquele tempo a política de transportes de Portugal deveria ter por eixo principal a ligação entre as capitais das varias províncias - continental e ultramarinas. Será que nada mudou?

Numa ditadura, naturalmente, as decisões são tomadas por técnicos nomeados ou designados pelo governo, que se informam para decidir em nome do bem comum. Será que nada mudou?

No nosso tempo, Portugal está inserido numa economia cada vez mais globalizada e num espaço monetário e económico comum. Será que tudo é igual?

No nosso tempo, Portugal centralizou-se mais do que se vira em todos os anteriores oito séculos de história. O país desertificou-se aceleradamente no interior e sobre-urbanizou-se com largos custos para a nossa qualidade de vida no litoral. Será que tudo é igual?

No nosso tempo o país vive em democracia. No entanto, sobram estudos que foram feitos e outros tantos que foram escondidos. Pior ainda, sobram estudos que não foi permitido serem feitos. Será que tudo é igual?

O essencial da decisão de construcção de um aeroporto, numa perspectiva de direita dos poderes públicos, é o impacto que a sua localização tem sobre o ordenamento do território, que é como quem diz, sobre o desenvolvimento de longo prazo do País. Num país em que grandes bancos nacionais (ainda) utilizam nas suas reuniões de quadros, estudos que afirmam que daqui a dez anos 75% da população vive no grande Porto (+/- 20%) e na Grande Lisboa (+/- 55%), será que os poderes públicos podem ser indiferentes às suas responsabilidades, só porque a decisão se arrasta desde a ditadura?

A História, dos nossos netos, que a actual está quase a chegar ao fim, não será tão indulgente.

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