Esta história do diploma de Sócrates, ou melhor, da forma como ele o alcançou, serve de exemplo para muitas coisas.
Sobre muitas dessas coisas, o artigo de hoje de Vasco Pulido Valente, no Público é suficiente.
O que me parece é que tira as suas conclusões à margem da realidade do País. O problema da nossa cultural e atávica subserviência com os títulos, não está nos títulos em si. O problema está em pensarmos que os títulos dão direito às subserviências.
Num país em que se premeie o mérito, o que deveria importar é o que a pessoa é capaz de demonstrar conseguir e saber fazer. Com ajuda de todos os instrumentos de que se tenha munido e em especial da formação académica que tenha recebido. Mas, em caso nenhum o percurso académico será mais relevante do que o percurso profissional - a não ser, eventualmente, no momento do acesso à profissão.
Muito boa gente conseguiu triunfar profissionalmente sem ter recebido qualquer curso. Diria até que, para o baixo nível de pessoas que terminam o liceu em Portugal, pena é que não haja mais gente a triunfar profissionalmente apesar de não ter conseguido fazer um curso.
Ora, o percurso profissional de José Sócrates é claramente um percurso de sucesso. Até se pode afirmar que já atingiu o topo da sua carreira profissional - só lhe faltará ser Presidente da República. Mais, para quem ande atento ao exercício da actividade governativa, há que reconhecer que José Sócrates recuperou para o Estado uma seriedade de actuação, uma exigência de eficácia e uma profundidade de preparação das decisões que há muito andava a faltar. Mesmo ou apesar de não se concordar com muitas das decisões que tem vindo a ser tomadas - o contrário, aliás, é que não seria natural; é por isso que a democracia é melhor que os outros sistemas, é por isso que as alternativas são fundamentais, é por isso que o debate é (deveria ser) esclarecedor e garante de melhores decisões.
O erro da conclusão de Vasco Pulido Valente é pensar que o exemplo de Sócrates não é um bom exemplo. É-o, claramente. Sobretudo na parte que interessa, que é o percurso profissional, na profissão escolhida, neste caso a política. É, igualmente, um percurso académico confuso e possivelmente eivado de subserviências implícitas ou explícitas, em particular da parte da UnI e especialmente da parte do tal professor das quatro cadeiras. Mas isso, caros senhores é irrelevante, tanto mais quanto mais quisermos uma méritocracia e desvalorizarmos a importância dos títulos. O que o percurso de Sócrates demonstra aos actuais estudantes é que melhor do que tirar um curso é ser um bom profissional. Se para isso, para exercer a profissão pretendida for necessário um curso, então há que começar por ser um bom estudante - se não, é irrelevante, como no caso de Sócrates.
Politicamente relevante era saber se José Sócrates procurou, recebeu cumplicemente ou aceitou conscientemente, benefícios académicos de que tivesse beneficiado para o exercício da sua profissão de político. Ora isso não ficou demonstrado. Muito pelo contrário, foi pelo menos o que eu senti - alguém considera que um curso de engenheiro da UnI dá prestígio? Mais do que ser Deputado? Secretário de Estado? Ministro? Secretário-geral do PS? Primeiro-ministro? Democraticamente legitimado pelo voto livre da maioria?
Isto mais parece um daqueles casos em que o arguido culpado consegue ser ilibado por um artício jurídico-processual. Como não consegue ganhar pela força dos argumentos, encontra um artíficio técnico para vencer. E aqui, para que fique claro, quem estou a criticar é a Oposição.
Dito isto, não ficou provado que o processo académico de Sócrates fosse isento de falhas ou incongruências. O que também não ficou demonstrado é que Sócrates tivesse promovido, procurado ou aceite conscientemente essas falhas ou essas incongruências. O resto é palha.
Outro problema é saber porque é que existe um tal grau de cumplicidade e compadrio entre as elites académicas e políticas, que vai ao ponto de simplificar o percurso académico de políticos, de aceitar apresentação tardia de provas de competências, etc. Mas esse é um mal geral da sociedade e das elites portuguesas, não é um exemplo específico do caso de Sócrates.
Quanto ao mais, alguém votou em Sócrates por ele ser Engenheiro? ou por ter um MBA, incompleto? Alguém é contra as opções de Sócrates por ele ser Engenheiro? ou por ter um MBA incompleto?
Não tenho dúvidas de que muita gente se inscreve no PS e no PSD para facilitar os respectivos percursos profissionais. Todos o sabemos. Não sei até se não existirá disso no CDS. Espantoso seria se agora descobrissemos que também o fazem, i.e., inscrever-se nos partidos, para facilitar o percurso académico. Não ficaria surpreendido - embora ficasse triste. Mas sobre isso não vi nenhuma investigação nem nenhuma alegação...
Tudo isto é triste e não é bonito.
ResponderEliminarMas os socialistas são useiros e vezeiros nestes assassinatos de carácter.Usam os jornalistas a seu belo prazer.
Qualquer dia só aceita lugares de relevo público quem passou os seus trinta primeiros anos num convento.
Para as estruturas dos partidos é que vale tudo.Mas aí é mais difícil.Afinal os jornalistas sentam-se na cadeira ao lado!
Caro Ventanias, diga-me uma coisa, era capaz de preencher um questionário na sua entidade patronal, mentindo, deliberadamente e propositadamente, sobre as suas habilitações literárias ? Julgo que não, por um motivo muito óbvia, você não é um aldrabão ! Quando nos resignamos a ter um aldrabão como P.M. é porque estamos no fim da linha. Portugal está no fim da linha. A seguir a este pode vir outro qualquer, olhe pode ser o Valentim. Também já foi Major, já deixou de ser, voltou a ser. A mim até me dava jeito uma arca congeladora lá para casa... ou um plasma, talvez.
ResponderEliminarCarlos de Sottomayor