Já aqui afirmei que não compreendia as razões e os motivos apresentados pelo Dr. Paulo Portas para se afastar da presidência do CDS na sequência do resultado (mau) das últimas eleições legislativas. Não compreendia porque o meu entendimento da Democracia leva-me a pensar que não se podem desprezar umas centenas de milhares de votos, apenas porque elas não representam os objectivos previamente fixados. Esses votos representam, ainda assim, um mandato que deve ser desempenhado, com honorabilidade e honradez, eventualmente na perspectiva de um possível subsequente e atempado abandono das funções. Isto é, no final do mandato, a tempo apenas de permitir que o partido se prepare para futuras eleições. Não foi este o entendimento do Dr. Paulo Portas. Como agora se verifica, foi um erro. E um erro que provocou um problema ao CDS.
O Dr. José Ribeiro e Castro herdou um partido órfão e abandonado, aceitando por amor à causa o repto de não permitir que ruísse toda uma obra que o partido vinha a tentar construir na sequência das desventuras monteiristas e de toda a pandilha que por ali andara a fazer política como quem brinca a jogos de poder a feijões. Não terá sido uma opção fácil, a do Dr. Ribeiro e Castro, muito embora tivesse parecido apaixonada. A verdade, porém, é que se revelou um segundo erro. A política, hoje em dia, também se faz na imprensa e sobretudo na televisão. Ouço dizer, de vários lados, que o actual Presidente do CDS devotou incontáveis esforços à reorganização do partido, à sua preparação para os combates que o futuro trará, concebendo e executando a sua liderança numa perspectiva de longo prazo que, noutras condições, poderia ter vindo a dar resultados. Mas não logrou "aparecer". Infelizmente, uma significativa parte da política depende de "aparecer". Verifica-se agora que a solução encontrada e generosamente oferecida pelo Dr. Ribeiro e Castro foi igualmente um erro, na justa medida em que não resultou. Pode parecer injusto, mas foi o que se verificou. O que afirmo, creio, é consequência, quase inevitável diria, do erro anterior. Mas aconteceu. O partido havia sido preparado para este tempo pelo Dr. Paulo Portas. À sua medida e com as vontades que a ele se disponibilizaram. O partido não soube aproveitar o esforço que o Dr. Ribeiro e Castro quiz e pôde oferecer. O Dr. Ribeiro e Castro não soube ou não pôde aproveitar a oportunidade que teve.
Para não voltar a criticar os episódios palacianos que marcaram este tempo do mandato do Dr. Ribeiro e Castro, largamente por culpas imputáveis aos próximos e actuais proponentes da solução que o Dr. Paulo Portas agora veio apresentar, limitar-me-ia a afirmar que esta renovada solução peca apenas por tardia. Não teria sido necessária se o Dr. Paulo Portas se não tivesse voluntariamente afastado. Não teria sido tão desastrada se tivesse acontecido no congresso do ano passado. Mas foi assim.
O problema é que o Dr. Paulo Portas agora terá de combater não apenas o estado a que o partido estava a chegar, como igualmente a descridibilização da sua imagem que resulta de um abandono incompreendido e de um regresso tempestuoso. Em política o que parece é. E quando o que parece, não parece bem, então não é bem.
Como se isso não bastasse, ainda entenderam as partes neste conflito permitir que descesse a níveis que envergonham qualquer apoiante do CDS. Era natural que o Dr. Ribeiro e Castro pretendesse defender a dama pela qual se disponibilizou e combateu. Mas não é compreensível que sacrifique a credibilidade do seu partido a uma estratégia pré-definida, ainda por cima assente em argumentos estritamente jurídico-formais, de desmontagem da estratégia do adversário. Não é aceitável que a letra da lei se imponha a simples regras de cortesia e de bom perder. Não é aceitável que a defesa das nossas crenças e princípios possa ser deitada a perder porque se pretende impor uma solução, ainda que se creia que essa solução é a melhor para o partido. Sobretudo, não é aceitável que uma opção processual se sobreponha a um debate de ideias e de políticas. O pior que poderia ter acontecido ao Dr. Ribeiro e Castro era perder as directas e apresentar-se em congresso derrotado nessas directas a defender o seu mandato e as suas ideias e razões. Mas não foi. O que aconteceu foi que o Dr. Ribeiro e Castro aceitou participar e participou num jogo que se arrisca a ser o da sentença de morte do CDS.
Era natural que o Dr. Paulo Portas tivesse previsto a possibilidade dos seus adversários não quererem sair sem dar luta, que quisessem usar de todas as tácticas ao seu dispor para defenderem aquilo em que acreditam. Sobretudo, porque o Dr. Paulo Portas não podia nem precisava de vir dizer em que termos e condições aceitava regressar a casa. A casa é dele, regressaria nas condições em que a casa o recebesse. Mas não, o Dr. Paulo Portas quiz ir mais longe. E não se preparou para as encruzilhadas que o caminho escolhido lhe pudesse trazer. O pior que poderia ter acontecido ao Dr. Paulo Portas era ir ao congresso defender as suas ideias, eventualmente realizando as directas apenas depois desse congresso. Se o perdesse, tiraria daí as suas conclusões. Se o ganhasse, como creio que aconteceria, ganharia as directas sem qualquer dificuldade. Mas não foi isso que aconteceu. O que aconteceu foi que o Dr. Paulo aceitou participar e participou num jogo que se arrisca a ser, não apenas o da sentença de morte do CDS, mas igualmente o da sentença de morte do seu próprio futuro político.
O problema é que eu, enquanto apoiante, simpatizante e disponível colaborador do CDS não sei o que hei-de fazer, nem muito menos o que hei-de pensar.
Não quero que este pandemónio se prolongue pelas próximas semanas. A julgar pelo que vi hoje, conferência de um lado, conferência do outro, declaração do Presidente no fim, receio bem que "a telenovela esteja apenas no princípio".
Não admito votar num líder que aceite pactuar com este tipo de estratégias. De um lado e do outro.
Não vejo o que poderão fazer, quer um quer outro, para serenarem os animos e ajudarem a recuperar alguma da muita credibilidade que o partido perdeu neste fim de semana. Mas sei que lhes compete fazer alguma coisa, sob pena de arrastarem o partido atrás do fim dos seus destinos políticos.
Há-de haver momentos em que o Bem da Instituição se há-de sobrepor às tácticas e estratégias de quem queira para ela contribuir. Esperemos que alguém de bomsenso esteja atento e que apareçam soluções rapidamente. Pela minha parte, estarei disponível para tudo quanto esteja ao meu alcance e possa contribuir para que o partido não pereça neste jogo inacreditável. Disse.
PS- Para quem não me conhece, uma explicação. De há vários anos a esta parte que tenho colaborado, sempre que me foi pedido e sempre que entendi ter contributos a dar, com todos os presidentes do partido. Por razões profissionais, entendo que não estou em posição de aparecer publicamente a dar a cara pelas minhas convicções. Sempre o fiz, privadamente. Nunca deixei de assumir as minhas simpatias políticas, apesar do que isso me possa custar profissionalmente. Também de há vários anos a esta parte que me ando a preparar para poder um dia dar um contributo maior, e público, ao CDS. Pensava eu que isso poderia acontecer a partir de 2008. Oxalá ainda haja CDS em 2008. Assim impere o bom senso que faltou no último conselho nacional do partido.
Sem comentários:
Enviar um comentário