Sempre achei um programa como o dos "Grandes Portugueses" uma tonteria pegada. Desde logo porque compara o incomparável, ou seja, homens cujas circunstâncias e épocas são tão díspares que tornam, ab initio, impossível o reducionismo de uma tabelização. Contudo o programa lá se fez e não posso deixar de registar a curiosidade do resultado. É bem verdade que as contingências do mesmo, de vária ordem, não permitem muitas extrapolações. Todavia, algumas são possíveis. A apetência por um programa com aquelas características favorece um público que se deleita com a história factual, a história personagem, das datas, dos feitos e esquece a pequena história, no sentido da Nouvelle Histoire, como lhe chamava Fernand Braudel.
Por outras palavras, o programa favorece, à partida, todos aqueles que se revêem numa história protagonizada por personagens carismáticos e providenciais cujo destino se confunde com o da própria pátria.
No entanto, no resultado alcançado não deixa de ser surpreendente e, por isso mesmo, revelador, que uma esmagadora maioria, 60% mais precisamente, tenha optado pelo voto em Salazar e Cunhal. Tal facto é, prima facie, desolador, perturbador e infeliz. Mesmo o terceiro lugar atribuído a Aristides Sousa Mendes é de pasmar.
Por outras palavras, o programa favorece, à partida, todos aqueles que se revêem numa história protagonizada por personagens carismáticos e providenciais cujo destino se confunde com o da própria pátria.
No entanto, no resultado alcançado não deixa de ser surpreendente e, por isso mesmo, revelador, que uma esmagadora maioria, 60% mais precisamente, tenha optado pelo voto em Salazar e Cunhal. Tal facto é, prima facie, desolador, perturbador e infeliz. Mesmo o terceiro lugar atribuído a Aristides Sousa Mendes é de pasmar.
Mas se na aparência o score afigura-se-nos bizarro, há dentro dele uma inquietante coerência.
Este público que votou - e os números não são assim tão discipiendos - votou em personagens muito "próximos".
Tanto Cunhal como Salazar ( e mesmo Sousa Mendes) encarnam o ideal de líder, fiel aos seus princípios e ao seu quadro de valores, recto nas suas acções, leia-se, coerentes, determinados, leais, sérios, previsíveis, incorruptos e incorruptíveis, frontais e inconvenientes. Líderes politicamnete incorrectos, que assumiam as suas convicções, sem tergiversações oportunistas.
Posto isto, é forçoso concluir que o voto esconde mais do que aquilo que demonstra a sua literal aparência.
Nos tempos que correm, o móbil da classe política e os critérios que o infundem não são razões de princípio. A luta politica pauta-se pelo calculismo, pelo despudor tacticista, pela intriga palaciana. As identidades entre os actores da cena politico-partidária são infundadas, na melhor das hipóteses, por razões de oportunidade várias. Quando não, mesmo, do mais puro amiguismo militante. Escasseiam as posições de princípio, puro, e se as há, estão inquinadas pela imagem pouco séria das restantes. O ar blasé com que os profissionais da política encaram o seu mester, é apropriado pelo público como um desinteresse que disfarça, desgraçadamente, um arena dominada por fenómenos enviesados de compadrios e conchavos. Numa palavra, em política perdeu-se o sentido do rigor, o sentido da Virtude.
E foi daqui, de onde esta Virtude soçobra, que os votos a foram resgatar onde ela, aparentemente, parece abundar. Em homens cuja postura coerente, firme e convicta nunca foi sinónimo de grandeza de carácter e, sobretudo, de alma.
O voto, não causa, pois, a perplexidade aparente. Não passa, no fundo, de um voto de frustração, um voto de desapontamento, de desilusão, de repúdio, de nojo. Fruto da tão propalada falta de qualidade da Democracia.
Mas será que já ninguém neste país entende de estatística?
ResponderEliminarSerá que em vez de debater quem é para os portugueses o maior português, ninguém fala em amostras auto seleccionadas?
É que este método usado neste caso, nada de científico tem...
Claro que não tem nada de científico! Todos sabemos que os Salazarentos e os Cunhalóides se mobilizaram para votar.E, mesmo assim, são uma minoria.
ResponderEliminarQuem é que se mobilizou para votar nos outros? Ninguem!
Enquanto a votação nas outras figuras são expontâneas,(quem vota no Vasco da Gama por exemplo, não está á espera de tirar disso dividendos políticos)em Salazar e Cunhal, a votação é ,arregimentada.
Os rebanhos do costume!
E agora é de morrer a rir!
ResponderEliminarOs Salazarentos dizem que os votos de Cunhal são comprados, arregimentados...
Os Cunhalóides dizem que os votos de Salazar são comprados, arregimentados...
Porque se o primeiro lugar é indicativo o segundo, pelas mesmas ordens de razões, tão é!
Quem é que acredita nisto?