Ninguém tem dúvidas que o CDS é um partido da direita. É-o por razões históricas, aconteceu-lhe ser o partido mais à direita que alcançou representação parlamentar a seguir ao 25 de Abril e situou-se num espaço político tradicionalmente conotado com a direita, o da Democracia-Cristã. Por vezes do centro-direita, mas sempre da direita, nunca da esquerda.
No caso português, também não teve muitas hipóteses de se colocar no centro. Apesar de ter sido o primeiro partido da "direita" a coligar-se com o PS, num governo, o que, teoricamente, o poderia ter colocado no centro, a verdade é que o centro veio a ser ocupado pelo PS, do lado esquerdo, e pelo PSD, primeiro PPD, à direita, imediatamente a seguir à AD, onde já então o CDS se vira 'empurrado' para a direita da Aliança. Deste modo, o CDS viu-se encostado à direita.
Como se isso não fosse já suficiente, a ascendência do Prof. Cavaco Silva ao poder e o seu ar austero e determinado, levou, por um lado, muito do povo do CDS a preferir votar PSD e, por outro, o próprio CDS a buscar novos espaços políticos. Tentou-o de várias maneiras. Numa versão mais conservadora, mas ainda democrata-cristã, com Adriano Moreira, numa versão mais oportunista - na minha opinião - mas igualmente democrata-cristã, com um reafloramento de Freitas do Amaral, e depois numa deriva mais nacional-liberalista, no início de Manuel Monteiro, aí, porventura, com menor enfase democrata-cristão. Posteriormente Monteiro zangou-se com os seus companheiros de percurso, perdeu-se em ilusões populistas pouco consubstanciadas e acabou por deixar o partido a Paulo Portas, que o tentou recuperar para uma matriz democrata-cristã, com laivos de conservadorismo à inglesa (i.e., nacionalista q.b. nas questões europeias, e liberal q.b. nas questões económicas) e de preocupações sociais com inspiração na doutrina social da Igreja. Mas nunca deixou de se situar na direita.
Porém, também nunca foi verdadeiramente um partido de direita, ainda que tenha assumido alguns laivos caudilhistas com a permanência de Paulo Portas no poder. Nunca o foi, porque o respeito pela autoridade nunca foi uma marca do partido, ainda que o seu eleitorado claramente se deixe seduzir pelas figuras mais autoritárias que à sua esquerda foram acedendo ao poder - ilustraria com esta afirmação: poucos votantes CDS se terão sentido seduzidos pelo governo de Guterres, o que não impede muitos votantes do CDS de sentirem algum apreço pela forma determinada e pouco dialogante como o actual primeiro-ministro exerce as suas funções e, sobretudo, parece imbuído de uma missão. Nunca o foi, porque a ordem e a disciplina nunca foram marcas do partido, apesar de alguma acalmia e relativa tranquilidade que o consulado de Paulo Portas sempre foi trazendo. A que acrescentou alguma capacidade de recuperar figuras do passado do CDS, assim, de algum modo, reconciliando o PP com o CDS e daí resultando o actual CDS-PP.
Quanto a mim, e daí a razão deste post, há espaço para que o CDS se afirme à direita. Creio nisso porque estou convicto que com uma liderança sólida e uma aposta no longo prazo haverá muitos eleitores que estarão disponíveis para perceber que há alternativas às formas centralizadas de organização do Estado a que nos fomos habituando com os governos do centro - de direita e de esquerda. Há margem para reduzir o papel do Estado e aumentar a qualidade de vida dos cidadãos. Há espaço para descentralizar e obter ganhos de eficiência e legitimidade do funcionamento dos serviços do Estado. Há urgência de libertar o Estado e a Economia da promiscuidade que entretanto se foi instalando. Há premência em depurar o sistema político, em particular o seu centro quer de direita quer de esquerda, do nepotismo e do carreirismo que caracteriza a actuação deles. Há finalmente, uma grande apetência por uma liderança, colectiva e individual, dotada de uma nova visão para o País. Uma visão que permita conciliar o futuro que já se adivinha no espaço em que Portugal se afirma, com a necessidade de mobilizar o país para ultrapassar os atrasos que o caracterizam e as carências que o impedem de se modernizar mais rapidamente.
Não vejo nesta possibilidade uma ameaça à herança democrata-cristã do CDS. Pelo contrário, vejo nisso um elemento de justo apelo à solidariedade de que o país necessita se pretender fazer juz ao património judaico-cristão de que é tributário. Vejo nessa herança igualmente um apelo à responsabilidade individual e colectiva pelo nosso presente e pela construção de um futuro melhor.
Mas também vejo nesse espaço um desafio à mudança de mentalidades e de discursos que o futuro exige. É um trabalho de fundo. Que passa por recuperar para a actualidade da agenda política nacional uma crença nas possibilidades individuais para responder aos desafios pessoais e sociais. O que implica uma adaptação dos modelos institucionais do País, de molde a libertá-lo do jugo de uma tradição administrativa excessivamente burocratizada e tolhedora do empreendedorismo que poderia catapultar o País para a modernidade - o que, obviamente, implica um trabalho de fundo que não é possível concretizar numa legislatura e possivelmente não produzirá resultados definitivos apenas em duas.
Creio que é possível e desejável desmitisficar alguns dos consensos que entretanto se interiorizaram no País e que tanto o limitam nas escolhas que vai fazendo. Há um sentimento generalizado de descrença e de apatia - quando não de abandono, como quando as pessoas voltam a optar macissamente pela emigração. Há um alheamento das responsabilidades colectivas - com a rara excepção dos brilharetes da selecção nacional - assente, creio, num divórcio entre a condução política e a realidade do quotidiano da maioria, que é profundamente disruptivo da harmonia social a que um democrata-cristão deveria aspirar e da ordem que um cidadão de direita deveria defender.
Não creio que as manigâncias melodramáticas de alguns personagens do 'stato quo', munidos apenas de uma sensação de perplexidade que rodeia o que lhes aconteceu quando deveriam ter sido actores protagonistas do seu tempo - de que Santana Lopes é o máximo exemplo -, não creio que essas manigâncias representem qualquer renovação da classe política portuguesa, por muito espaço que lhes dediquem as antenas televisivas, apenas porque nada de mais está a acontecer, e por muito que falem em novos partidos. Muito menos creio que o povo tenha vontade de se deixar enganar outra vez, ou que se venha a mobilizar por ideias velhas em fatos novos. Por muito que os seus putativos representantes gritem presente.
Tudo somado, acredito que o tempo actualmente poderia ser um tempo de oportunidade para o CDS e para a sua afirmação à direita. Poderia ser este o tempo em que o CDS e a Direita finalmente lançavam as bases para um dia acederem a um poder legitimado, capaz de o mandatar para corrigir muitas das assimetrias que estão instaladas na sociedade portuguesa e no território do País. Ainda não é tarde.
Desejo e espero que os candidatos a líder do CDS tenham compreendido bem o alerta que constituíu o último Conselho Nacional. Seguramente que não é por aí. Talvez seja por aqui, se ainda forem a tempo de corrigir estratégias e apontar ao que interessa: o que está por ganhar é um Futuro melhor para Portugal. Hoje. Agora. Com atitudes de Direita e sentimentos Democrata-Cristãos. Disse.
Do que há dúvidas é que o CDS ainda seja um partido. AFS
ResponderEliminar... e o CDS de Lucas Pires?
ResponderEliminarUgabunga
Tenho gostado de te ler neste momento post-Óbidos. Aqui neste último até cheira a esboço de moção... Tens o meu modesto aplauso. RPM
ResponderEliminarCaro Ugabunda,
ResponderEliminarDe facto omiti o CDS de Lucas Pires. Porventura, porque foi profeta antes de tempo... possivelmente porque não passou de um episódio esporádico, certo aquele em que o partido esteve mais perto de poder vir a ser influente, sobretudo porque terminou muito mal (talvez venham daí muitos dos males subsequentes de que tem padecido o CDS): Lucas Pires abandonou, porque o povo do CDS o trocou por Cavaco Silva. Pior, não só abandonou como se converteu ao PSD. Creio, que isso terá representado uma falta de crença em valores próprios ou, pior, uma confusão entre valores democrata-cristãos ou de direita e o que o PSD de Cavaco representou: uma figura de direita com políticas de esquerda, ou no máximo de centrão. Muitos dos vícios actuais do sistema político português, nomeadamente no Estado, são resultado directo da falta de convicções de Cavaco, que confundia o consenso com uma regra decisória de gente informada!!! Sem contraditório não há debate! Sem debate não há democracia!
Abraços
Só falei do Lucas Pires porque ele era um exemplo para os portugueses em questões Europeias (na altura CEE). Enquanto o CDS nas legislativas tinha uns 6%, o CDS em eleições europeias tinha uns 15%.
ResponderEliminarPorque é que o mesmo partido, na mesma altura temporal, tinha o dobro dos votos nas europeias??! Também só me lembrei dele por essa curiosidade de números.
Ugabunga
E quem está na génese de todos os abandonos, humilhações e, em última análise, da situação a que chegou o CDS?
ResponderEliminarEu não sou polícia nem cão de guarda, e recuso-me a fazer papel de "pião das nicas"
Gente com credibilidade é precisa para dirigir o CDS!
Temos muita gente boa que não aparece porque não se quer ver envolvida com estes bandos de "interesseiros"
Os militantes têm que escolher entre um Partido de gente livre ou um Partido de "escravos" dedicados a incensar "borregos com pés de barro!"
Há dois anos foi o que se viu no desgoverno.Agora é isto.Vergonhoso!
É preciso o quê para correr com esta gente?
Monteiro zangou-se com os seus companheiros???? não foi o portas que o torpedeou???, eu estava no largo do caldas em 14 de Dezembro de 97 (salvo erro) e vi como os adeptos de portas da jc alguns hoje com responsabilidades parlamentares e na câmara de LX abriram uma garrafa de champanhe para comemorar os maus resultados autárquicos... Já a afirmação do conservadorismo inglês de portas ou dá para rebolar a rir ou de vomitar, e já agora sobre a política europeia de portas o que era? pois, era a estupidez do "eurocalmismo", cumprimentos meu caro...
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