Das muitas coisas que se têm escrito nesta campanha referendária, poucas são as novidades e os verdadeiros contributos e impulsos para um progresso na análise desta questão. Sem dúvida, Pacheco Pereira, com o seu artigo Vida e a “Vida”, trouxe um ar novo. A busca do étimo último, do animus essencial, em causa nos conceitos de “Liberdade” por banda do Sim e de “Vida” do lado do Não, é um exercício tanto útil como necessário.
Todavia se as referências que aduz, relativamente à “Liberdade” não chocam, já quanto ao conceito “Vida”, é altamente polémico.
Desde logo, encosta o Não a uma mundividência, cristã, religiosamente comprometida e, como tal, tributária de uma percepção metafísica da Vida. Como refere, a "Vida" enquanto “sopro divino".
Depreende-se, pois, da discordância que aponta ao, alegado, proselitismo que denuncia nestas posições, as quais, considera, defendem valores civilizacionais parcelares e que fazem parte de um todo. Esse, sim, legítimo e que se traduz na convivência das diferentes percepções perante a Vida.
Como, de resto, acaba por referir, semelhante entendimento é de um relativismo poderoso e inaceitável. Desde logo porque tudo o que é humano é cultural e civilizacional. Não podemos sair e fugir a este facto inexorável. A contingência cultural é um fenómeno que o homem pode realizar mas nunca ultrapassar. Olhar-se de fora pode ser um exercício curioso mas nunca completo. Por isso, se o Não é viciado no conceito que proclama, também o será um defensor de uma perspectiva asséptica e denodada da Vida.
Acresce que, bem no oposto, do que aí é referido, não aceito que essa perspectiva laica e jacobina, seja alheia à tradição católica e cristã. Porque desde logo, ela nasce, dentro do caldo cultural europeu. E, por via disso, fatalmente paga tributo à tradição Clássica e Judaico-Cristã. Aliás, o conceito de culpa, de responsabilidade e consciência individual, de relação directa e imediata com Deus, são a génese da valorização da pessoa humana enquanto indivíduo. Daqui ao Liberalismo e ao Romantismo, foi um passo.
Mas há mais. Não creio que seja necessário ser arauto de um conceito de “Vida”, enquanto transcendência, para estar com o Não.
Pelo contrário, a consciência da singularidade da nossa existência, da nossa Razão, da nossa especificidade no Universo ilimitado e até agora conhecido, são razões de sobra para proteger essa centelha, esse quid, essa conjugação irrepetível de átomos e moléculas que redundam num organismo vivo. E sendo, esse organismo, um ser humano, parece-me dispensável discorrer sobre as razões da sua protecção.
Porque, se isto não se aceitar, então, teremos que concordar que seja admissível a defesa da aniquilação da nossa espécie ou do planeta, porque isto tudo não passa dum amontoado, curiosamente ordenado, de protões e neutrões, que no fim de contas produziu uma bizarria no terceiro planeta a contar de uma pequena estrela situada nas faldas de uma galáxia, entre as milhões que povoam esse Universo. Sem dúvida, o firmamento permanecerá imperturbável com o que aqui se passar. Este relativismo nihilista, é inaceitável, como será evidente para qualquer um… P.Pereira incluído.
Donde, a defesa da Vida, da Vida Humana, mesmo no seu início, mais do que legítima deve ser, sempre, curada e cuidada. E não ser desprotegida fazendo-a depender do livre arbítrio de terceiros.
Porquê? Não só por ser “Vida”, mas também porque é Vida.
Mas ainda que se aceitasse que o que estava em causa só era a “Vida”, ainda assim, a sua afirmação e defesa seria legítima.
Ao falar-se em despenalização, em liberalização do Aborto, tal facto redunda numa alteração ao Código Penal. Ou seja, a uma construção jurídico-normativa, ela própria espelho, fruto e exemplo acabado de um produto civilizacional por excelência. Num código regedor das relações humanas com as características específicas de um Código Penal, plasmam-se, quase paradigmaticamente, as concepções morais e éticas de uma sociedade, ou se se quiser, de uma Civilização.
Acaso não seria legítimo que quem se identifique com um quadro de valores não o defenda. Sobretudo num aspecto tão delicado, sensível e último como seja o início biológico da Vida Humana. É que sem ele, não haverá afectos para defender, escolhas, para fazer, culturas para defender...! Parece-me, da mais clara evidência, de que se está a tratar de algo fundacional.
E aqui, reside a maior perplexidade. O efeito conformador e o carácter de exemplo que decorre da lei e da assumpção dos valores morais e éticos que consagra, é suficiente para fazer recear que na peugada desta liberalização, esteja uma banalização de um comportamento que ninguém, no seu perfeito juízo, pode defender ou encarar como aceitável.
Todavia se as referências que aduz, relativamente à “Liberdade” não chocam, já quanto ao conceito “Vida”, é altamente polémico.
Desde logo, encosta o Não a uma mundividência, cristã, religiosamente comprometida e, como tal, tributária de uma percepção metafísica da Vida. Como refere, a "Vida" enquanto “sopro divino".
Depreende-se, pois, da discordância que aponta ao, alegado, proselitismo que denuncia nestas posições, as quais, considera, defendem valores civilizacionais parcelares e que fazem parte de um todo. Esse, sim, legítimo e que se traduz na convivência das diferentes percepções perante a Vida.
Como, de resto, acaba por referir, semelhante entendimento é de um relativismo poderoso e inaceitável. Desde logo porque tudo o que é humano é cultural e civilizacional. Não podemos sair e fugir a este facto inexorável. A contingência cultural é um fenómeno que o homem pode realizar mas nunca ultrapassar. Olhar-se de fora pode ser um exercício curioso mas nunca completo. Por isso, se o Não é viciado no conceito que proclama, também o será um defensor de uma perspectiva asséptica e denodada da Vida.
Acresce que, bem no oposto, do que aí é referido, não aceito que essa perspectiva laica e jacobina, seja alheia à tradição católica e cristã. Porque desde logo, ela nasce, dentro do caldo cultural europeu. E, por via disso, fatalmente paga tributo à tradição Clássica e Judaico-Cristã. Aliás, o conceito de culpa, de responsabilidade e consciência individual, de relação directa e imediata com Deus, são a génese da valorização da pessoa humana enquanto indivíduo. Daqui ao Liberalismo e ao Romantismo, foi um passo.
Mas há mais. Não creio que seja necessário ser arauto de um conceito de “Vida”, enquanto transcendência, para estar com o Não.
Pelo contrário, a consciência da singularidade da nossa existência, da nossa Razão, da nossa especificidade no Universo ilimitado e até agora conhecido, são razões de sobra para proteger essa centelha, esse quid, essa conjugação irrepetível de átomos e moléculas que redundam num organismo vivo. E sendo, esse organismo, um ser humano, parece-me dispensável discorrer sobre as razões da sua protecção.
Porque, se isto não se aceitar, então, teremos que concordar que seja admissível a defesa da aniquilação da nossa espécie ou do planeta, porque isto tudo não passa dum amontoado, curiosamente ordenado, de protões e neutrões, que no fim de contas produziu uma bizarria no terceiro planeta a contar de uma pequena estrela situada nas faldas de uma galáxia, entre as milhões que povoam esse Universo. Sem dúvida, o firmamento permanecerá imperturbável com o que aqui se passar. Este relativismo nihilista, é inaceitável, como será evidente para qualquer um… P.Pereira incluído.
Donde, a defesa da Vida, da Vida Humana, mesmo no seu início, mais do que legítima deve ser, sempre, curada e cuidada. E não ser desprotegida fazendo-a depender do livre arbítrio de terceiros.
Porquê? Não só por ser “Vida”, mas também porque é Vida.
Mas ainda que se aceitasse que o que estava em causa só era a “Vida”, ainda assim, a sua afirmação e defesa seria legítima.
Ao falar-se em despenalização, em liberalização do Aborto, tal facto redunda numa alteração ao Código Penal. Ou seja, a uma construção jurídico-normativa, ela própria espelho, fruto e exemplo acabado de um produto civilizacional por excelência. Num código regedor das relações humanas com as características específicas de um Código Penal, plasmam-se, quase paradigmaticamente, as concepções morais e éticas de uma sociedade, ou se se quiser, de uma Civilização.
Acaso não seria legítimo que quem se identifique com um quadro de valores não o defenda. Sobretudo num aspecto tão delicado, sensível e último como seja o início biológico da Vida Humana. É que sem ele, não haverá afectos para defender, escolhas, para fazer, culturas para defender...! Parece-me, da mais clara evidência, de que se está a tratar de algo fundacional.
E aqui, reside a maior perplexidade. O efeito conformador e o carácter de exemplo que decorre da lei e da assumpção dos valores morais e éticos que consagra, é suficiente para fazer recear que na peugada desta liberalização, esteja uma banalização de um comportamento que ninguém, no seu perfeito juízo, pode defender ou encarar como aceitável.
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