sábado, janeiro 06, 2007

Ecaterina no país das Catarinas

Apanhei, por acaso, num programa que desconhecia, com um título pindérico (Perdidos e achados, ou algo do género), duma jornalista de quem não gosto (Sofia Pinto Ribeiro), uma dolorosamente interessante reportagem sobre uma Ecaterina romena, que para cá veio com a mãe há coisa de cinco anos e que por pouco e muita influência de anterior reportagem da SIC se livrou de ser repatriada. A reportagem original comoveu grandes vontades e a rapariga ficou. A mãe labutou 14 horas por dia e claro está recebia pouco mais do que o miserável salário mínimo que o País sustenta. A filha, a tal Ecaterina, que se tornou numa bela rapariga, tornou-se numa estudante brilhante. E aprendeu. O suficiente para saber que Portugal é um país pequeno demais para ela. Tenciona ir para o Canadá, já que voltar à Roménia ainda há-de ser pior do que ficar por cá. Tem muitos amigos, mas esses também querem emigrar, incluindo os portugueses, porque há poucos apoios para se encontrar emprego no fim da universidade.

A que ponto chegou o País, senhores, se nem sequer temos capacidade para aproveitar os talentos que por cá vão passando, como nós durante séculos fomos passando por outras paragens, se nem os nossos filhos convencemos a ficar; segundo a Organização das Missões Católicas portuguesas no estrangeiro, no ano passado terão emigrado mais de 100 mil portugueses. Estamos regressados ao ritmo da emigração da ditadura. Depois admirem-se das pessoas terem saudades do Salazar; esse, como dizia o historiador nacional, "morreu pobre depois de ter tido o poder, o poder absoluto, nas mãos durante várias décadas". Estes, os outros que nos trouxeram da ditadura até à miséria actual, esses vivem com quatro ou cinco reformas, quando não tem ainda algum tachito, para já não falar dos empregos fáceis que prodigalizam aos filhos, parentes e demais apaniguados. Deus lhes pague, da mesma moeda, se for possível.

Nós, convinha que acordássemos, se quisermos que as nossas Catarinas ainda tenham País para encontrar emprego.

A ti Ecaterina, a melhor sorte do mundo. Pena tenho que nem sequer te tenhas apaixonado por um qualquer desses nossos irmãos, a quem ao menos tivesses transmitido alguma da tua sede de triunfar...

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