terça-feira, janeiro 23, 2007

A Arte do Possível: Crise no CDS

Não tenho escrito quase nada sobre o CDS, porque, tal como a maioria dos eleitores do CDS, observo com tristeza o dia a dia do Partido. Acho que os principais intervenientes contribuem com a sua cota parte de culpa e, por isso mesmo, tenho uma atitude mais crítica sobre cada um dos lados, do que propriamente de defesa de A ou B.

Recordo que Paulo Portas pegou no PP em Braga. O PP estava numa profunda guerra, não muito diferente da de hoje. Paulo Portas foi eleito e teve a arte de começar por unir o Partido, tendo que muitas vezes ultrapassar a sua maior ou menor proximidade partidária em relação a determinadas pessoas. Ele sabia que para falar para fora, primeiro teria que unir por dentro. Nesse percurso, e porque achou que todos eram precisos, foi buscar de novo para o Partido pessoas que estavam afastadas, como, por exemplo, são os casos de Basílio Horta e até do próprio Ribeiro e Castro, e de trazer para o seu projecto político pessoas como Miguel Anacoreta Correia, que apesar de não o ter apoiado era uma mais valia para a acção política do CDS.
E neste registo, logo a seguir a ter derrotado Manuel Monteiro, no Congresso de Lisboa, e antes das Eleições que levaram o CDS ao Governo, convidou-o a ser cabeça de lista por Braga, numa atitude manifestamente pacificadora.

Quando o CDS chegou ao Congresso da sua saída, não nos podemos esquecer que os militantes e os congressistas estavam na sua quase totalidade alinhados com ele. Paulo Portas saiu porque achou que o deveria fazer, sabendo que tinha o Partido consigo.
Mas Paulo Portas até na sua saída soube ser líder: não abandonou o partido e não escolheu entre candidatos qual seria o seu sucessor. Se dúvidas houvessem, bastaria observar que as duas pessoas mais próximas de si, Luís Nobre Guedes e António Pires de Lima, apoiaram Ribeiro e Castro e Telmo Correia, respectivamente.

Contrariamente ao que muitas vezes transparece, quem escolheu eleger Ribeiro e Castro e não Telmo Correia para presidente do CDS, foi o Partido, que estava totalmente com Paulo Portas.

Nesse Congresso, Ribeiro e Castro conseguiu convencer – e bem - a maior parte do «portismo» a votar em si, que o levou a sair vencedor. E esse mérito é quase todo seu.

Depois, como timoneiro do CDS, Ribeiro e Castro nunca conseguiu afirmar-se como Presidente, nem teve a capacidade e lucidez para unir o partido à sua volta. Pelo contrário, ele nunca superou o seu complexo em relação à liderança de Paulo Portas. Não estabeleceu canais de comunicação adequados com Paulo Portas. Nunca soube aproveitar a mais valia e o valor político de Paulo Portas. Depois do Congresso, não valorizou e nem teve a arte de aproveitar o apoio de Luís Nobre Guedes. E ainda por cima, foi afastando todas as pessoas próximas de Paulo Portas que o apoiaram, com o “fantasma” de que não eram «castristas»…

A Ribeiro e Castro tem faltado arte, como, por exemplo, quando não utilizou os canais de comunicação adequados. Tem-lhe faltado autoridade, quando nas Eleições Autárquicas não se soube impor. Tem-lhe faltado sensibilidade, como quando foi almoçar com Manuel Monteiro. Tem-lhe faltado habilidade, para muitas vezes esquecer a razão em detrimento dos objectivos.

Em relação ao Grupo Parlamentar, alguns dos deputados não se têm comportado bem, nem têm respeitado a legitimidade de Ribeiro e Castro como presidente do Partido. Quer se goste ou não do estilo, quer se concorde ou não com a liderança, o facto é que Ribeiro e Castro ganhou com toda a legitimidade os últimos dois Congressos. E se no primeiro teve um adversário político – Telmo Correia, no segundo não teve. Se no primeiro ganhou com o apoio da maior parte dos «portistas», no segundo ganhou sem adversário efectivo. Agora, não se pode fazer oposição interna a Ribeiro e Castro e quando chega a altura de apresentar uma alternativa, ela não aparece.

Sobre a demissão de Nuno Melo, acho que ele tomou a decisão correcta, na defesa de uma maior estabilidade institucional e certamente também motivado pela decisão da Comissão Política Nacional.
Nuno Melo é hoje uma figura do CDS que tem o seu espaço político, legitimamente adquirido pelo seu bom trabalho como líder parlamentar. Para além disso, ele é uma figura pública conhecida de muitos portugueses, até porque para além da sua acção política também tem tido algum mediatismo e cobertura da sua vida pessoal.
Mas tem cometido erros, tal como outros. O caso infeliz de falar com Marcelo Rebelo de Sousa, que é nem mais nem menos, o comentador que mais criticou Paulo Portas durante a sua liderança no CDS, é revelador do momento que grande parte das pessoas do partido estão a passar. Marcelo Rebelo de Sousa, ao seu melhor estilo, aproveitou o deslize e “publicou” na imprensa que Nuno Melo lhe falara antes de ir para o programa.
Na minha opinião, dar palco a Manuel Monteiro ou Marcelo Rebelo de Sousa à custa do CDS não é correcto, até porque são duas pessoas que muito mal fizeram a Paulo Portas.

Esta situação não é justa para o CDS e não é justo para os eleitores do partido. E esta é para mim a questão essencial. O CDS é um partido com uma base eleitoral conservadora, com uma matriz institucional e que não se revê numa atitude “sniper”. Depois há um CDS mais flutuante, mais adaptado a globalização dos nossos dias, menos respeitador da história, que pratica uma “realpolitike” feita com base na Comunicação Social e não no discurso político.

Enfim, não é justo para Ribeiro e Castro que foi eleito para fazer o seu mandato. E não é justo para todos os que no partido que estão contra o actual presidente do CDS e querem uma personagem que seja o rosto de uma verdadeira alternativa. Para bem do CDS, que ela apareça o mais rápido possível e que os militantes escolham quem querem ver a liderar o seu partido.

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