domingo, novembro 19, 2006

As fronteiras da Europa

Na próxima 3ª feira Joschka Fischer vem a Portugal para uma conferência que promete. O tema é “Por onde passam as fronteiras da Europa?”, e o evento terá lugar em Gaia.

O tema é muito interessante e tem a actualidade que resulta fundamentalmente da hipótese de adesão da Turquia.

A primeira vez, de que me lembro, de reflectir sobre este tema foi talvez há mais de 20 anos. Na altura, o Rui Pereira de Melo tinha feito um notável trabalho escrito, premiado internacionalmente. O título era – se não me engano – “Europa, um entendimento difícil”, e a conclusão era a de que a Europa era uma ideia.

Ao longo destes anos fui lendo alguns livros (não tantos como gostaria…) e fui sedimentando uma opinião. Saltando aqui muitos autores, é impossível deixar de falar no pequeno livro de George Steiner “A ideia de Europa”, que nos fala de um conjunto de aspectos práticos da nossa identificação enquanto europeus.

Mais recentemente tive a oportunidade de ler um livro do então Cardeal Ratzinger sobre os fundamentos da Europa. O livro consiste numa compilação de um conjunto de conferências, e aconselho vivamente a leitura. O actual Papa Bento XVI é um intelectual de alto gabarito, e é uma figura incontornável para quem queira perceber a Europa actual e futura.

Tenho a convicção de que a Europa - mais do que um lugar - é uma ideia. Uma ideia resultante essencialmente da herança judaico-cristã, e que tem como ponto fulcral a dignidade da pessoa humana.

Foi a defesa da dignidade do Homem que fez com que os dirigentes europeus tenham condenado a sentença de morte de Saddam Hussein. A pena de morte é impensável na Europa.

É também a dignidade do Homem (e em rigor da Mulher) que faz com que a poligamia não faça parte da nossa “estrutura” europeia.

Quais são pois as fronteiras da Europa? Até onde pode a União Europeia (é disso que se trata…) alargar-se?

Pois eu acho que podem integrar a União Europeia os países do continente europeu e os países confinantes ou próximos (critério territorial) desde que acolham e pratiquem a essencial ideia de Europa (critério substancial), traduzida no respeito e defesa da dignidade da pessoa humana. Não basta pois pertencer ao continente europeu; é necessário ter assimilado o “conceito” europeu.

Parece-me, sem conhecimento directo e apenas por aquilo que vou lendo, que a Turquia ainda não preenche os requisitos para pertencer à União Europeia.

Por outro lado, e como mero exemplo, a Cabo Verde ficaria bem a adesão à EU.

Vou aguardar com curiosidade a conferência de Joschka Fischer, e darei nota das conclusões aqui no Nortadas. Uma coisa é certa: tenho a convicção de que, como refere George Steiner «”a vida não reflectida” não é efectivamente digna de ser vivida.»

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