segunda-feira, outubro 09, 2006

A dimensão do desafio

Uma opinião vale o que vale, sobretudo em democracia. Mas as opiniões do Prof. Santana Castilho, no Público de hoje
(http://jornal.publico.clix.pt/noticias.asp?a=2006&m=10&d=09&uid=&id=101458&sid=11205) merecem ser comentadas.

Desde logo porque enfermam de um erro de base: os professores podem ter muito de que se queixar pelo que correm o risco de vir a deixar de ganhar se as reformas do Governo forem para a frente, mas acontece que NÃO TEM NADA DE QUE SE ORGULHAR, pelo que deixaram fazer para trás - e nessas alturas ninguém os viu protestar maciçamente. Portanto, os protestos a que hoje assistimos não passam da defesa de interesses corporativos, completamente desajustados da realidade. Aliás, na perspectiva da Esquerda, surpreende esta defesa acérrima dos previlégios dos professores; afinal o 25 de Abril também se fez para destruir os previlégios das corporações, ou não?

Depois, porque a confusão dos argumentos do Professor é tão grande que suscita espanto. Primeiro, deixa claro que não estava a pensar quando escreveu o que escreveu; estava a sentir. Mas apela à sr.ª Ministra que fique a pensar perante o desaforo dos professores. Segundo, não compreende que os Governos, se se quiserem poder respeitar, não tem de fazer as coisas que julgam dever ser feitas porque elas são fáceis ou difíceis de fazer... Devem fazê-las porque acreditam nelas; mesmo que isso "vire" os pais contra os professores. Terceiro, não percebe que colocar a Pessoa e as pessoas no centro das preocupações governativas, mesmo as económicas, não é defender grupelhos, por maiores e mais organizados ou voluntaristas que sejam, contra o interesse colectivo da comunidade - e para isso não é necessário ser de Direita nem de Esquerda; basta procurar exercer as responsabilidades da Res Publica com dignidade e sentido de serviço.

Finalmente, na sua cegueira emocional, não demonstra ter alcançado o que é a economia. Para falar de um modo simples, explicaria: a economia são o conjunto das actividades dos trabalhadores, de acordo com uma determinada organização (gestores e sistema público), na exploração dos recursos disponíveis (saliento o capital), para criação de riqueza. Admito que se possa argumentar que a distribuição de riqueza tem problemas, que o sistema protege os previligiados, que há injustiças relativas e absolutas no actual sistema económico nacional, mas pretender que a economia tem interesses opostos aos da Pessoa é não só não compreender esta última como ainda não perceber a primeira e as vantagens que o seu desenvolvimento trás a todos.

Por último, e para não ser acusado de parcial, gostaria de concordar com um dos argumentos do Professor: o exemplo devia vir de cima. Não consigo deixar de me surpreender com a facilidade com que aceitamos as mordomias dos nossos governantes e em particular ex-governantes e não protestamos com a sua manutenção em momentos em que se pede a todos, ou quase, que aceitem sacrifícios em prol do bem comum.

É este o verdadeiro desafio da Direita, se quiser ser poder em Portugal. Explicar aos cidadãos que é na direita e à direita que se encontram as soluções que irão permitir conciliar o respeito pela Pessoa com o desenvolvimento económico, a níveis de solidariedade desejáveis. Aqui tenho procurado deixar o meu contributo nesse sentido.

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