quinta-feira, setembro 14, 2006

A relevância das oposições

Creio, aliás já de há bastante tempo a esta parte, que as oposições se devem fazer através da proposta de ideias e soluções alternativas. Sobretudo para pequenos partidos, com uma forte matriz ideológica, como deveria ser o caso do CDS.

Reconheço, naturalmente, que nesta época de império da mediatização, isso não basta e que é necessário encontrar modos eficazes de fazer passar a mensagem, de modo a conquistar as opiniões de quem um dia terá de escolher através do voto.

Mas daí a substituir as prioridades pela necessidade de "aparecer", de "marcar a agenda" e outros chavões de quem está habituado a lidar com os meios de comunicação social e a viver para eles, parece-me que vai um passo muito grande...

Como o demonstra a actual situação política.

Perante um Governo que optou por enfrentar as corporações para impor meras medidas de bom senso, e escolheu fazê-lo de uma forma que parece autoritária, os partidos da direita não conseguem capitalizar junto do eleitorado o mérito da eventual paternidade de muitas dessas medidas, porque nunca conseguiram passar com clareza a mensagem que lhes subjaz - ou, pior ainda, por serem parte integrante do centrão, como o PSD, ou por não se terem conseguido demarcar suficientemente durante o período, recente, em que foram governo, como o CDS, pelo que o eleitorado também não os consegue distinguir das responsabilidades sobre o actual estado de coisas que parece legitimar as mudanças que o Governo parece querer impor. A esses partidos, resta o silêncio ou parecer que se opõe ao que devia ser feito; entre as duas que venha o diabo e escolha.
Outro seria o caso se por acaso andassem a apresentar alternativas às medidas governamentais e razões sérias para se perceber porque é que essas alternativas seriam melhores (e não argumentos do género "aumentar a eficiência", "diminuir a ineficácia", "insuficiente redução da despesa", e outros chavões que parecem signifcar muito mas que não dizem nada...

Naturalmente, o "povo de direita" percebe que lhe agrada o que o Governo tem tentado fazer e, mais ainda, a atitude geral de seriedade e ruptura com que o tem tentado fazer. E, do mesmo passo, não se mostra muito disponível para compreender o silêncio dos partidos quando deveriam estar a apoiar, ainda que criticando construtivamente - que mais não fosse por tibieza ou insuficiência -, essas medidas do Governo, nem muito menos que andem ocupados a mostrar divisão e divergências de opinião sobre assuntos que nada ou muito pouco dizem a esse mesmo eleitorado.

Queremos lá saber com quem almoça o Dr. Ribeiro e Castro, ainda que não apreciemos o conviva. Queremos lá saber porque é que o CDS não foi convidado a elaborar o pacto de regime - muito embora sejam perfeitamente compreensíveis as razões porque um Governo que se reclama do centro-esquerda poderia não querer ser visto como co-autor de um "pacto de regime" só com os partidos da sua direita.
O que quereríamos ver era o CDS a explicar se vai ou não apoiar as medidas desse pacto, tanto mais que até se reclama co-autor de muitas dessas mesmas medidas - não esquecemos que um dos ministros da Justiça do anterior governo até era uma grande Senhora do CDS... Ou então, se não o puder apoiar, se nos irá apresentar com clareza porque razão o não pode fazer e qual a alternativa que gostaria de ver aplicada.
O que gostaríamos de ver era o CDS a apresentar os princípios porque se deveria nortear uma alternativa de reforma do sistema educativo. Mais séria, mais profunda, mais reformadora.
Mas isso, ao que parece, não é marcar a agenda política. Daí à irrelevância, não me parece que vá um passo assim tão grande.

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