Li hoje no Público que em Berlim cancelaram um espectáculo de ópera devido ao receio de ataques islâmicos.
Confesso a minha ignorância, pois não conheço esta obra em particular e, por isso, não imagino o que o pobre do Mozart lá possa ter dito sobre o Islão. Qualquer dia vamos deixar de ensinar os Lusíadas nas escolas por causa das opiniões de Luís de Camões, já com quinhentos anos, sobre os seguidores de Maomé.
Seja como for, o episódio é demonstrativo do ambiente de cerco em que vivemos. Não consigo ilustrar melhor o que se passa senão recorrendo às palavras de Helena Matos, no Blasfémias, que cito: "o censurado e perseguido passa a provocador. A censura passa a acto de respeito. O medo é travestido em sinal de tolerância. A capitulação passa por gesto de boa vontade."
Muitos dos que reagem ultrajados e indignados quando alguns católicos protestam timidamente quando se sentem agredidos por algo que consideram ofensivo da sua religião, nestas alturas nada dizem e até compreendem. Como entender isto? São fracos com os fortes e fortes com os fracos.
Paulo Portas escreveu no Sábado, no Sol, que no Ocidente não há fé e no Islão não há razão. O que até parece verdade. Eu acho que no Ocidente, particularmente na Europa, não só não há fé, como não há razão, nem bom senso, nem coragem, nem dignidade, nem, sobretudo, consciência do que está aqui em causa. O que há é medo, umas vezes assumido e noutras disfarçado de "politicamente correcto". O medo, em si, não seria um problema, só é se não o vencermos. Fechar os olhos e esperar que passe, como crianças, não nos salvará. Fingir que está tudo bem e que não é nada connosco é ainda pior. Os tempos que aí vêm não vão ser melhores nesta matéria e exigem outra atitude. Espero, embora sem grande convicção, que os novos líderes que se anunciam em França e no Reino Unido, sejam de esquerda ou de direita, percebam bem esta realidade e a consigam mudar.
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