domingo, setembro 03, 2006

O Independente e os meus sentimentos

O Independente, ou melhor o seu fim, provoca-me um sentimento de alívio. Fui um leitor pouco regular do Independente, tendo apreciado sobretudo, no seu início, a irreverência com que tratava os assuntos e a escrita de alguns dos seus colunistas. Mas confesso que nunca me seduziu a leveza, para não dizer falta de seriedade, com que se tratavam todos os assuntos, sobretudo os de carácter político.

Não me seduziu porque sempre me pareceu tributário de uma certa forma de fazer política, precisamente aquela que menos prestigia a actividade política. Em minha opinião a política não deveria ser trabalhar para as primeiras páginas dos jornais. Entender a política dessa forma é o primeiro passo para confundir a promoção das ideias que se defendem para o País com a defesa das ideias que a imprensa se sente preparada para destacar. Implica uma alienação dos próprios ideiais a favor das "caixas" e acarreta uma alienação dos leitores por essas mesmas caixas em desfavor dos tais ideiais que poderiam ser mobilizadores.

Creio ser este um dos desafios maiores das modernas sociedades ocidentais. É preciso saber conviver com a importância da imprensa e com o apetite dos cidadãos pela fofoca, não deixando de cumprir os papéis essenciais dos partidos na cena política; numa palavra esse papel deveria ser o de propor aos cidadãos alternativas. Nem mais, nem menos.

Ora, o Independente nunca tentou propor qualquer alternativa. Apresentou-se como alternativa porque escolheu como linha editorial questionar os pressupostos do que hoje chamamos o "centrão". Mas era necessário consolidar essa imagem com uma linha de pensamento alternativo. E isso não aconteceu. Infelizmente, porventura, tanto mais que o jornal ficou sempre conotado com uma geração que já não se sentia tributária da necessidade de ser de esquerda. Talvez por isso mesmo o jornal sempre foi tolerado pela esquerda, visto que fazia mais mal à direita doque a essa esquerda que não se sentia alvo do que o jornal dizia. Também não se conseguiu afirmar como um jornal contra-poder, porque nunca conseguiu captar os "anarquistas" de esquerda. Nunca foi representativo de qualquer projecto de alternativa.

Por isso mesmo, o fim do Independente apenas me provoca um sentimento de alívio. Acabou. Talvez agora haja oportunidade de aparecerem verdadeiras alternativas jornalísticas.

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