Um dia, sem poder precisar onde, li que o segundo classificado é o primeiro dos últimos. Se não estou em erro - e pode ser que esteja, dado entender muito pouco de desporto - quando alguém ou alguma equipa concorrem a uma prova desportiva, fazem-no com a intenção de chegar ao primeiro lugar. Uma intenção que pode não passar de um sonho; mas é esse sonho que os faz - ou fará, sei lá bem - estar presentes. Nessa medida é em absoluto ininteligível entender-se porque é que tão apaixonadamente os portugueses decidiram dar os parabéns à selecção portuguesa. Uma palmadinha nos costas ao estilo "vá lá, não estiveram mal, para a próxima há-de ser melhor" ainda vá; mas "parabéns selecção" e "Portugal agradecido" parece um exagero descabido. O problema é que este estado de alma colectivo - e, como se sabe, os estados de alma colectivos não passam, a maioria das vezes, de pura imbecilidade social - está a tornar-se numa estratégia. Que é tudo menos vencedora. Ficou tudo contente com o segundo lugar no Euro 2004 - quando a selecção, que jogava em casa contra uma equipa de pernetas, tinha tudo para ganhar; toda a gente aplaudiu a prestação dos sub-21 no campeonato europeu, quando os tipos pouco mais fizeram que o que faria qualquer equipa de solteiros a jogar contra a de casados; e agora temos isto com o 4º ou quando muito o 3º lugar no mundial. É um estado de alma que se vai consolidando e que faz a alegria geral rebentar por um lugar sombrio desde que não seja o último. E depois aquela explicação serôdia: "somos um país pequeno, não controlamos nada, todos nos querem pôr de lá para fora". Um disparate, até por definição: se somos pequenos e não chegamos lá, ninguém tem de se preocupar em persegui-nos porque, exactamente, nunca lá chegaremos. O problema é que os portugueses estão a habituar-se a isto - e ainda por cima 'comprando' a ideia, completamente absurda, de que as vitórias do futebol ajudam a economia. Basta comparar-se a produtividade dos dias em que Portugal jogou com a produtividade de um dia normal para o assunto ficar encerrado. Vá lá: da próxima vez ganhem qualquer coisa, para a gente poder ficar contente e celebrar como deve ser, ao invés de andarmos a fazer de conta - a coisa não passa muito disto - que os sucedâneos nos são suficientes.
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