sexta-feira, julho 14, 2006

A nomenclatura e os direitos adquiridos

Meu caro Ernesto Serra, não podia estar mais de acordo com as suas observações. Com uma ligeirissima diferença. Para mim não era accionar o Estado por incumprimento dos contractos; o que deveríamos fazer era accionar todos esses economistas ex-governantes e outros políticos com responsabilidades para que devolvessem os direitos adquiridos que adquiriram enquanto desbaratavam os nossos direitos, impunemente.

Aliás, penso que uma oposição decente que não estivesse comprometida com o sistema deveria estar a pressionar o Governo para moralizar toda essa canalhada que passa por ser a elite dos economistas, e políticos, nacionais. A coisa nem era difícil. Bastava impor como limite, retroactivamente, a todos os benefícios que esses senhores se outorgaram enquanto iam desgovernando a coisa pública, o salário do Sr. Presidente da República - que, diga-se de passagem, não está nada mal para um País como Portugal: pelas últimas informações de que disponho, fora todas as demais mordomias inerentes ao cargo, anda pelos 7 mil euros, quer dizer praticamente 20 salários mínimos. Julgo que deve chegar para viver com dignidade, mesmo que seja como compensação pelos meritórios serviços prestados à Pátria, nomeadamente os de desbaratar o pecúlio penosamente poupado pelos portugueses para assegurar o seu próprio bem-estar no futuro (quer dizer, a Segurança Social).

É que alguém deu a outrém o direito de se reformar aos 48, ou aos 55, ou aos 58 ou em qualquer outra idade bem produtiva. Pior ainda, alguém deu a si próprio o direito de receber pensões milionárias depois de curtas passagens por empresas dominadas, de facto, pelo Estado ou, ainda pior, em empresas do Estado, como o Banco de Portugal. Ou por ter servido a Nação enquanto seu representante eleito...

Não pensem os incautos leitores que eu estou contra os largos vencimentos de toda essa elite. Acho muito bem que ganhem bem. Pelo mérito próprio. Isto é, deveria haver um regime de incompatibilidades para os políticos trabalharem em cargos públicos, ou semi-públicos, depois de exercerem funções públicas. São assim tão bons, vão para o sector privado. Ou melhor, lá para fora, que é onde se ganha bem. Nós não precisamos de gente assim tão boa; o que precisamos é de gente SÉRIA, que não desbarate a coisa pública e sobretudo que não se enriqueça sem causa a partir da coisa pública.

O mote é simples: ou há moralidade ou comem todos. Que, aliás, é o que o povo tenta fazer quando se esforça por fugir aos impostos. Assim, pelo menos, impede que a coisa pública cresça demais, para evitar que os tais ainda possam enriquecer mais.

Note-se, mais uma vez, que apesar de tudo este Governo actual tem dado provas de uma seriedade neste tipo de questões, como já não se via há muito tempo. Pena é que as oposições não estejam a reconhecer esse esforço e a pressionar para que ele seja estendido aos múltiplos privilégios injustificados que essas elites tem vindo a acumular injustificadamente nas últimas décadas.

PS - Não se pense que estas coisas não tem consequências. Tem sempre, podem é não ser imediatas. Quem conhecer um pouco de história sabe que mais tarde ou mais cedo os povos se revoltam contra os seus tiranos, quer em política quer na economia. Há-de haver um dia em que a resignação portuguesa se transformará em revolta. Pode ser amanhã, pode ser no dia do lançamento da primeira pedra da Ota ou no dia da absolvição da Casa Pia, mas seguramente será um dia.

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