sexta-feira, maio 12, 2006

Perspectiva liberal e pobreza

As contingências dos dias que correm, a nível económico, político e social, têm criado condições propícias para a difusão das ideias liberais. Os ares dos tempos são, aliás, muito favoráveis e demonstram uma grande receptividade ao seu “ideário”. Claro que perante conceitos como “flat rate” e quejandos, há sempre quem se amofine com a blasfémia e invoque logo os clássicos e gastos preconceitos: o desdém pelos mais fracos, pelos mais pobres, pelos mais desprotegidos da sociedade. No fundo, atribui-se a um dito “liberal”, uma concepção quase eugénica da sociedade, onde só os melhores e os mais vigorosos podem e, por via disso, deverão vencer. Ser ou não liberal, eis a questão!!!
Desde já se diga, que este tipo de catalogação não é uma perspectiva honesta. Há, de facto, linhas identificativas e referenciadoras, mas balizar qualquer perspectiva da sociedade a uma determinada orientação, é, nos tempos que correm, altamente redutor. Em política, na filosofia, na sociologia, nas ciências humanas em geral, não há chaves dicotómicas. Seria bem mais fácil…mas não há. Há critérios reveladores e definidores, mas há muitas mais “terras de ninguém”, zonas cinzentas onde os conceitos e as correntes se interpenetram, se recompõem, se completam.
Feita a ressalva, sempre se dirá que o sucesso das ideias ditas liberais, vem ao encontro das necessidades com que hoje nos defrontamos. E, sobretudo, vem adivinhar e augurar as futuras. Há no Ocidente, prenúncios, que a sociedade da saciedade e da abundância dará lugar a uma sociedade de escassez. Há que usar os termos com parcimónia e aqui “escassez” quer dizer que, o Estado, não poderá, como até agora, assegurar as condições do “social”. Nesse sentido, ao mundo ocidental, globalizado, perspectivam-se, no horizonte, nuvens negras. A falência do estado social, o ressurgimento das lutas sociais, sejam elas de cariz geracional ou cultural. A incerteza do emprego, a crise dos sistemas nacionais de saúde, da segurança social. Numa palavra, a imponderabilidade do risco, será a única certeza.
Por outro lado, a perspectiva liberal, enquanto fomentadora da livre concorrência, da abolição das barreiras, da auto-gestão do mercado, parece já um vislumbre, uma clarividência percursora do que se avizinha. Os “bric” (Brasil, Rússia, Índia e China) e os mais que hão-de vir, poderão levar a uma alteração das correlações de força e dos protagonismos a nível das potências dominantes. Daí a necessidade de uma resposta urgente a este desafio. E, como em tempo de guerra não se limpam armas, o mais eficaz afigura-se o estímulo da livre iniciativa, do voluntarismo individualista, para se poder vencer a feroz concorrência que surgirá com redobrada eficácia.
Sem dúvida, que tal concepção traz riscos. Mas, como em tudo, não há um sistema perfeito. E, na contagem do deve e haver, o saldo surge bem positivo.
Donde, se percebem os alertas que têm vindo a ser feitos, para a mobilização da sociedade civil na entreajuda e no estímulo da coesão social como factor determinante da inclusão. Note-se que não se persegue qualquer perspectiva assistencialista, mesmo que de cariz privado. É um alerta à consciência colectiva para a solidariedade. No caminho que nos aguarda espreitam velhas e nova porfias. Por isso, do que se trata é de preparar e estimular a sociedade civil para a necessidade de, como um todo, poder vencer os desafios que se avizinham.Sem esquecer aqueles que sairão mais prejudicados.

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