quinta-feira, maio 11, 2006

O 25 de Abril contado ás criancinhas.

Venho falar do 25 de Abril com algum atraso porque tenho tido outras coisas em que pensar, coisas que não posso dizer porque comprometi-me a não falar mais sobre um certo partido que fez um certo congresso que elegeu uma certa pessoa e pôs outras num certo conselho.

Tenho uma filha na primeira classe, e mesmo antes de ter aprendido algum conceito do que é um país a professora resolveu “ensinar” o que foi o 25 de Abril.
Acho muito bem que se comece cedo a ensinar a história do nosso país, mesmo tendo algumas reservas sobre as prioridades, por exemplo: Será melhor aprender primeiro quem foi Otelo Saraiva de Carvalho ou D. Afonso Henriques?
Passando à frente oito Séculos de história que pelos vistos não interessam nada, vamos ao cerne da questão, a revolução dos cravos.

A história que conto à minha filha é inocente e não tem qualquer sentido político, a seu tempo lhe ensinarei o que foi a ditadura. É apenas um episódio de uma infância feliz.

Eu nasci em Leiria e sempre passei as férias grandes numa quinta no vale do Liz pertença do meu Avô materno, e é com orgulho que falo desse meu Avô, que serviu Portugal com dignidade, por isso mesmo foi várias vezes homenageado depois da revolução.
O meu Avô numa das suas actividades como figura do Distrito, teve que receber o então presidente da república Américo Tomás nessa tal quinta, aonde eu estava com a minha Mãe e os meus irmãos de férias.
Como o acontecimento era solene, a minha Mãe vestiu-nos todos de branco (talvez para condizer com a fatiota do Almirante), mas o facto do presidente da república lá ir não alterava a realidade de aquilo ser uma quinta, com porcos, galinhas e terra, muita terra.
Como todas as crianças daquela altura estávamos habituados à liberdade, não conseguíamos estar parados quando havia muitas coisas para fazer, sei lá, soltar os leitões, atirar aos pardais, apanhar maçãs, ou simplesmente ir para as valas ver as rãs, peixes e enguias.
Claro está que quando a comitiva presidencial chegou nós não estávamos perfilados, limpinhos, asseados e bem educadinhos. Estávamos isso sim com os calções que antes eram brancos, cheios de caruma por causa do baloiço da mata, as camisolas tinham todo o tipo de porcaria que se encontra numa quinta e fariam uma depressão ás Mães urbanas de hoje em dia.
Com este ar desgrenhado, despenteados, esbaforidos, o Almirante olhou para nós de soslaio e não nos cumprimentou, pensando que talvez fôssemos uns rapazitos do campo por ali abandonados e que os netos do seu anfitrião estariam dormindo a sesta politicamente correcta.
A minha Mãe, como fez toda a vida, riu-se, nós rimo-nos, e toda a gente relevou porque o que realmente interessa é rir e ser feliz (é piroso, mas é verdade).
Uma vez que o Almirante saiu da quinta no carro do meu Avô, esta história acaba com o meu irmão mais velho e um primo sentados no carro da presidência a acenar à população que se juntava à beira da estrada.

Como compreenderão a minha filha depois de ouvir esta história não percebe porque é que a professora disse que os dias eram tristes e cinzentos e ninguém era feliz.

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