Freitas do Amaral - esteio angular da credibilidade do Executivo - pronunciou-se, em nome do Estado Português, sobre o agastante tema das caricaturas, através de uma informação à imprensa.
Lá do alto do Palácio das Necessidades, Freitas do Amaral tomou as rédeas da questão e presenteou o país e o Mundo com considerações, no mínimo, jocosas, sobre os últimos acontecimentos. Invectiva contra uma chamada "guerra de religiões", lançando o anátema da culpa pelo seu incitamento a certos países da União. Claro que, com a sua tomada de posição quis-se demarcar deste povo insano, bárbaro e sobretudo belicista a que, pelos vistos e infelizmente, pertence - os Europeus!!! Já para não falar nos Escandinavos, um subgrupo menor, distribuído por três reinos de licenciosidade.
Até aqui, admito, o texto tolera-se (tolera-se...???). O pior é o que vem depois: aquilo que não diz - que é sempre a melhor parte.
- Sobre a gratuitidade dos actos de violência perpetrados por hordas de muçulmanos contra embaixadas e interesses Dinamarqueses, austríacos ou europeus, nem uma vírgula. Donde, para Freitas do Amaral, são justificáveis...!
- Mais grave, sobre a insuportável coacção moral que a Europa e os seus cidadãos estão a ser vítimas, nem uma palavra. Donde, todas as ameaças à vida dos autores dos cartoons, e pior, a todos os putativos autores de um cartoon, ou texto, ou seja lá o que for, que verse sobre o Islão, estarão justificadas e até legitimadas. Lição da história: não sejamos libertários que pagaremos o preço.
Aliás, esta é a grande perversidade de toda a polémica: e daqui para o futuro? Qualquer cidadão europeu, seja ele um artista plástico, escritor, jornalista etc., estará, inapelavelmente, limitado na sua liberdade - "tout cour" - de determinação.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros, na peugada de muito boa gente por esse continente fora, em vez de defender aquilo que demorou gerações a construir, e pelo que tantos deram a vida, vem insurgir-se contra um desrespeito ou um desregramento, que por muito que até seja criticável, cai numa questão de princípio.
A defesa da Liberdade não deveria ter permitido espaço para concessões, porque, numa guerra de Culturas, há todo um espaço do simbólico que não é apropriável nem perceptível pela outra parte. E, sobretudo, a imagem titubeante que se faz passar só tem uma interpretação na linguagem rival : temor! Do 11/09, do 11/03, de aviões, combóios, metros, autocarros...do nosso próprio quotidiano assim ameaçado.
A Europa parece ter medo. Receio das imagens que povoam os seus media e que, doravente, vão passar a assombrar o seu imaginário.
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