No final da ronda de debates televisivos com a maioria dos candidatos à Presidência da República, podem concluir-se várias coisas.
1. A primeira delas é que os ingénuos voltaram a falhar, como estava claramente visto. Falo dos bem intencionados que, perante o facto de Mário Soares e Cavaco Silva concorrerem ao lugar, alvitravam que iriamos ter debates de grande elevação e apurado sentido estadista. Nada de mais disparatado, como era antecipadamente evidente - só não o era para quem não tenha pingo de memória - e como ficou claramente provado (e ainda não chegámos ao período de campanha eleitoral).
2. A segunda, esperada mas nem tanto quanto aquilo a que chegou, é a dificuldade que Cavaco Silva apresenta em gerir (leia-se aceitar) o apoio do CDS/PP. O que só vem dar razão aos que, no partido, olharam sempre com prudente distanciamento um apoio inequívoco ao candidato. De facto, e para que o CDS/PP estancasse ao menos momentaneamente o eterno perigo de se diluir no PSD, ganha força quem considerava que devia ter surgido uma candidatura própria que, mesmo colocando em perigo uma vitória de Cavaco à primeira volta, o fizesse recordar que também deve assumir um discurso que 'alicie' o eleitorado mais à direita que o próprio. Não sendo assim, o aliciamento seguiu todo para o PS - como mais se verá durante a campanha eleitoral.
3. Algo de inesperado é a bonomia (não sei que outra palavra usar) com que a direita observa a prestação de Jerónimo de Sousa. Percebe-se que, por detrás das declarações de surpresa positiva face ao candidato do PCP, está a tentativa de esmorecer a prestação de Francisco Louçã, mas convém não perder a lucidez.
4. O mais engraçado de tudo é, ainda assim, a guerra intestina entre Mário Soares e Manuel Alegre, dois amigos cruzados mas desencontrados, cuja guerrilha privada é de ir às lágrimas - não sabendo eu se de fecilidade se de pena (a amizade é, ainda assim, um valor muito sagrado, digo eu).
5. Estava a brincar: o mais engraçado de tudo - ainda no campo da Presidência da República - é o livrinho publicado por Jorge Sampaio, em que o infeliz revela ao mundo tudo o que fez em dez anos e em que ninguém reparou. Mais um PR que não vai ser absolvido pela História, como dizia o outro (e com razão, no caso), a quem está reservado um lugar meramente estatístico e invisível nos manuais escolares do futuro.
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