Ontem à noite, como já aqui o Carlos referiu, o auditório da Universidade Católica foi pequeno para acolher todos os que lá se deslocaram para verem e ouvirem António Barreto, Miguel Cadilhe e Artur Santos Silva. De todos os debates destes “Olhares”– e já lá vai a III série – não há memória de uma tão desmesurada afluência. Será sinal de que algo está a acontecer com o Porto e as suas elites? Há, sem dúvida, uma inquietude, que se demonstra na avidez de respostas por parte do público.
Foi, unânime o entendimento da existência de “pujantes” elites no Grande Porto, provindas dos mais amplos meios sociais, económicos, culturais, académicos e científicos. Igualmente partilhado diagnóstico de que estas elites estão orfãs de protagonismo nacional e, até, regional. Há, na verdade, um certo adormecimento por parte de todos os que deviam estar na vanguarda da sociedade e dos seus mais amplos sectores.
Todavia, para Barreto tal déficit de participação cívica radica numa demissão destas elites, problema que só a elas poderá ser assacado. Deverão, pois, encontrar dentro de si sinergias e movê-las para alcançarem o protagonismo que o Norte deseja e merece. Ora, para Cadilhe, tal facto tem a sua génese na falta de capacidade de liderança destas mesmas elites. A que acresce – e aqui introduziu o tema oficioso destes “Olhares” – a carência de um grau intermédio da Administração Pública que possa contribuir, como mote, para a organização destas elites, a Regionalização. Seria esta a alavanca para a sua emancipação. Diagnostica a falta de protagonismo das elites do Norte como exógeno. A centralização político-administrativa, isto é, a força centrípeta da capital, é a responsável pelo estado amorfo das nossas elites. Ora, para Barreto tal justificação pressupõe uma acto de “outorga” que não é aceitável. A alforria do Norte e das suas elites tem de nascer de dentro para fora e, assim, ser conquistado.
Foram ideias interessantes que se cruzaram, sobretudo duas visões à partida idênticas, mas, no fundo bem distintas, a que subjazem pressupostos diversos. Na perspectiva de Barreto adivinha-se o rigor dos princípios e a fidelidade a um entendimento puramente racional do tema, enquanto em Cadilhe denuncia-se a visão e a valorização dos atritos da realpolitik, e do status quo.
Ambos têm razão, e muito embora os argumentos tenham géneses distintas, complementam-se. Porque se muita da falta de protagonismo do Norte se deva à macrocefalia lisboeta e à cartilha dos sucessivos inquilinos de São Bento, parte não pode deixar de radicar na inércia e na falta de voluntarismo das próprias elites. Falta, sem dúvida, liderança, o que muito facilitaria a capacidade de autodeterminação e auto-organização. Mas num estado que padece de uma hipertrofia da sua Administração Central, sempre omnipresente, e onde as elites da capital são a Corte dum Estado adiposo, é igualmente difícil às forças da sociedade civil - independentes e afastadas do Estado centralizador - fazerem o seu caminho. E não nos podemos alhear que na nossa História, as grandes empresas, mesmo os Descobrimentos, foram sempre protagonizadas pelo Estado. E que a III República, surgiu da queda de um regime onde a centralização estatista alcançou o seu radical, ao estar monopolizada por um homem só.
Foi uma reflexão oportuna e acutilante. A consciencialização destas menos-valias, poderá contribuir, como um primeiro passo, para que as elites do Norte possam reganhar peso e serem altamente “subversivas” ao conquistarem o seu próprio espaço no quadro nacional e europeu. Para tanto haja vontade!
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