Confesso que, maldosamente, deu-me um grande gozo assistir à derrota dos candidatos do PS às câmaras de Lisboa e Sintra. Bem sei que isto não traduz bons sentimentos, mas perdoem-me um discreto contentamento tendo em conta a arrogância transbordante revelada pelas pessoas em causa. Uma mão invisível (a do mercado eleitoral) quis-lhes dar uma lição exemplar e até nem faltou a cereja do bolo: nas vésperas das eleiçoes, as sondagens, impiedosas, deram-lhes esperanças, o que tornou tudo muito mais doloroso.
Não foram, claro está, os únicos vencidos, Sócrates, Jorge Coelho e o BE também levaram para tabaco e nos próximos tempos vão estar de cabeça baixa. O povo, às vezes, é sábio.
O CDS não constitui, verdadeiramente, um perdedor surpreendente. Há já muito tempo que tinha perdido estas eleições, pois o partido não tem expressão autárquica, nem creio que volte a ter. O CDS não tem quaisquer condições para voltar a ser um partido de quadrícula, que ocupe o território nacional até às freguesias, nem isso é um mal em si mesmo. Existem muitos partidos com as mesmas características por essa Europa fora. O seu destino será, nos próximos anos, dependendo dos "milagres" que os líderes da ocasião forem conseguindo fazer, o de obter entre 5 a 10% nas legislativas e ajudar o PSD a formar maiorias de governo. Não vislumbro, infelizmente, outro cenário, nem auguro grande sorte à esforçada liderança de Ribeiro e Castro, pessoa que aprecio mas que os tempos de hoje não merecem.
Uma menção especial efusiva para o meu concelho de adopção: Ponte de Lima. A vila mais antiga do país é o último bastião centrista, resíduo final de um passado glorioso de um partido que chegou a controlar várias dezenas de câmaras e diversas capitais de distrito. Parabéns a Daniel Campelo e aos limianos. Acho que me vou recensear lá.
Parabéns ainda, mal comparando, a Jerónimo de Sousa. O PCP ressuscitou. Atenção, muita atenção a este PCP.
Não resisto a uma última nota. Muitas vozes criticaram, cheios de razão, Alberto João Jardim por este ter insinuado (ou ameaçado) que as câmaras que a oposição porventura conquistasse não teriam a colaboração do Governo Regional. O coro de críticas foi o do costume e, desta vez, aceitam-se perfeitamente. Acontece que não vi os mesmos protestos quando Jorge Coelho fez exactamente o mesmo num comício em Sintra. Num acto desesperado para apoiar o delfim (ou ex-delfim), Jorge Coelho disse, eu ouvi, que se João Soares vencesse as eleições o governo da república reuniria com ele logo na 2ª feira seguinte para resolver os problemas dos sintrenses. Isto, quer se queira quer não, aproxima-se muito da tese de Jardim. Só que, como se tratava de Jorge Coelho toda a gente se calou. Se eu estivesse no lugar de Fernando Seara teria pedido hoje uma reunião com os tais ministos que Jorge Coelho queria levar em excursão a Sintra.
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