terça-feira, setembro 06, 2005

Katrina discrimina

Pela blogosfera esgrimem-se argumentos e "vendem-se" indignações sobre o tratamento jornalístico do "Katrina". De facto, o antiamericanismo encontrou aí a catarse da sua inquebrantável demanda e denunciá-lo não é tarefa discipienda. Porque as autoridades americanas demoraram tanto tempo a actuar? Como não previram os efeitos devastadores de uma catástrofe natural desta envergadura? Será possível que não se tenha investido na segurança da cidade, em planos de protecção civil e, nomeadamente, na manutenção do cerne das infra-estruturas de Nova Orleães, os diques? Retirar daqui consequências e aproveitar este desastre natural para daí se inferir a conclusão de tal é o resultado paradigmático de uma administração ultraliberal por oposição a um Estado mínimo que ofereça uma "segurança mínima", parece bastante ousado.
A calamidade diluviana que se abateu sobre New Orleans, teve um resultado, cujas contingências, estão longe de se superar por uma análise interessada e conveniente à propaganda "antibush".
Por aqui e por ali pressentem-se pequenos sinais, pequenas "revelações" do que, realmente, provocou o espanto do Mundo. Na Louisiana, mais especificamente em Nova Orleães, cerca de 70% da população é afro-americana, ou seja, negra. As classes mais desfavorecidas do tecido social dos estados do Sul pré-Secessão, são, esmagadoramente, constituídas pelos descendentes dos escravos. Quem não desconhece a América sabe que no seu seio o problema racial está longe de estar resolvido. Não porque a consciência activa dos cidadãos não esteja alerta e, até, educada para uma igualdade. Mas sim porque na consciência cultural, que radica no mais profundo inconsciente colectivo, ainda vive e se consome um velho fantasma nunca exorcizado: o racismo. Este é o motivo número um para o laxismo retardador, para a negligência que diagnosticamos nas autoridades americanas. Não é algo voluntário ou determinado, mas é um véu diáfano e opaco que tolda a razão. É um sentimento de desconsideração por algo que se passa na senzala, na cabana do Pai Tomás. Longe do mundo que conta, branco e cujo dia a dia funciona como uma lixívia da consciência. Afinal Martin Luther King, que nasceu ali ao lado do Alabama, na Georgia, não morreu assim há tanto tempo (1968). Hoje como ontem... " I have a dream..."!!!!!

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