Quando escrevi aqui isto manifestei a minha total estranheza pela opiniões adivinhatórias do burgo. Todavia, após ler a entrevista, fiquei estarrecido: a realidade supera sempre a ficção. Lendo o original, vê-se destilado muito mais tacticismo do que supusera. Freitas do Amaral, qual crisálida, transforma-se, durante a entrevista, de Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros em protocandidato à Presidência da República. Trata o seu arqui-rival Cavaco - como ele merece - com o respeito devido aos verdadeiros adversários. Define, de uma forma sibilina, subtil e velada, todo um programa, e todo um pensamento estruturado para desafiar a candidatura consagrada de Cavaco Silva. Ao falar em “plebiscito”, em “salvador da pátria”, em “debate político a vários fóruns” e outros remoques quejandos, quer desmascarar a imagem, manifestamente, providencial do ex-primeiro-ministro. Apresenta como mera constatação que a não existência de candidaturas, até agora, é mau para o regime, desde logo enviando a “directa” para o visado. Assim querendo lançar o anátema do “tabu” sobre o adversário. Todavia, Freitas, bebe da cicuta que julgava oferecer, e ao proferir a crítica, arrasta-se a ele próprio: retirar da entrevista que o Prof. Diogo pretende ser candidato não é um juízo temerário, mas uma lapidar constatação. E, sobretudo, ao assim se lançar, critica o projecto em que está inserido. Na verdade, no que tange a problemática dos impostos, pretende remendar o irreparável: as contradições entre o verberado na campanha eleitoral e o efectivamente implementado, é uma nódoa e um sinal, paradigmático, da falta de propriedade e de consistência do executivo que acessora. E que ele não se coibiu de criticar, expressamente. Foram, por isso, ociosas e, sobretudo, cínicas todas as suas tentativas contraproducentes de correcção do afirmado.
Acresce que, no mesmo dia desta incontornável entrevista, o Ministro das Finanças, inopinadamente, demite-se. Razões pessoais? A Ota e o TGV? Desentendimentos com o P.S. profundo? A verdade virá ao de cima. Mas, uma coisa é certa, o mal estar deste executivo já não se intui, sente-se. É algo de muito palpável. A demissão de Campos e Cunha é um golpe letal num governo já tomado por uma síndrome de fim de ciclo. É mau para o executivo socialista e péssimo para o regime, que não consegue criar alternativas governativas credíveis. Numa palavra, é raro e revelador que duas das pedras angulares de um Governo se demitam num mesmo dia: um, simbolicamente, o outro, de facto!!!
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