Para alguns políticos, como por exemplo Álvaro Cunhal e outros extremistas de esquerda ou direita, a política é como uma viagem por uma longa estrada rectilínea (não necessariamente monótona), sem desvios ou cruzamentos, em que os obstáculos e contratempos do trajecto são ultrapassados pela obstinação e crença empedernida nos seus princípios, e apesar de haver trajectos mais curtos e lógicos, os mesmos são encarados como desvios ou distracções ao percurso originalmente traçado ou posteriormente assumido (sim, porque houve políticos, como Mitterrand que entusiasticamente começaram nas juventudes fascistas e acabaram como glórias do socialismo), e como tal são desprezados ou simplesmente ignorados.
Para outros (a maioria), a política é uma viagem ao longo de várias estradas e etapas, com pausas e correcções de rota, mas sempre com o objectivo de chegar ao destino. Estes políticos, apesar de por vezes parecer terem perdido o mapa, não perdem por completo o sentido de orientação, e muitas vezes apenas com a intuição natural, chegam ao destino.
Mas há um terceiro tipo de político, para quem a “viagem” pela política é penosa e parece ser feita a contragosto. E apesar de alguns manterem a ilusão de estarem no caminho certo, outros há que já nem se preocupam com o facto de estarem perdidos; quanto a estes não vale a pena sequer perder tempo com eles. Mas entre os iludidos, ou quiçá desiludidos, existe um tipo excepcional de políticos: são aqueles que apesar das constantes hesitações no trajecto a tomar, das frequentes inversões de marcha, do incompreensível e repetido abandono de trajectos e respectivos companheiros de viagem, continuam convencido que os outros é que mudaram, enquanto ele se manteve sempre no rumo certo. Tal alternância de percursos, levaram a que por vezes ele mesmo desse boleia a quem com ele deveria ter partilhado as despesas duma determinada viagem, mas chegando ao fim dessa etapa o passageiro faz-lhe um manguito (e os companheiros de partido a assobiar para o ar), e o próprio teve de se endividar para a conseguir pagar. Mas mais incompreensível para quem no passado o apoiou, é a actual, pública e alegre amizade com quem protagonizou a mais baixa campanha eleitoral desde o 25 de Abril, cheia de insinuações torpes, e insultos pessoais, e que agora com ele forma a mais representativa e mediática dupla de “senadores” do regime.
Tudo isto nos leva a concluir, e como o próprio diria à uns anos atrás, nos tempos de entusiasta democrata cristão, que são insondáveis os caminhos do Senhor.
Manuel de Magalhães Mexia
Sem comentários:
Enviar um comentário