Álvaro Cunhal tinha, na sua personalidade, características que justificam o seu percurso. É forçoso reconhecer que era um homem culto, inteligente, persistente, combativo. Características às quais, muitos dos políticos de hoje, têm um débito irressarcível. E esta era, pois, a “alma mater” do homem, a qual formatou o político.
Formou-se nas leituras do “Capital”, e foi o maior intérprete português da revolução de Outubro. Discípulo intelectual de Engels e Lenine, Cunhal perseguiu até aos seus últimos dias o fim da História marxista: a Ditadura do Proletariado. Tudo fez para cumprir o seu desiderato. Primeiro resistiu ao regime de Salazar, sujeitando-se às prisões e liderando, com mão de ferro e frieza, a “clandestinidade”, estribado naquilo a que, eufemisticamente, os comunistas designam por “centralismo democrático”. Depois, derrubado a outra ditadura, tudo fez para instalar um regime de cariz marxista-leninista, à guisa do “amigo” soviético.
A vida, os princípios políticos que o regiam, o cumprimento dos seus objectivos, determinaram que o homem se tornasse cruelmente obstinado. Só, assim, a revolução estaria assegurada.
Por isso, ao julgarmos o homem, não o podemos dissociar do político que foi. E todas as virtudes, que já estamos cansados de ver elogiar por estes dias, falecem perante o testemunho que nos deixou por legado.
Cunhal, após o 25 de Abril, foi um intrépido lutador contra a Democracia e a Liberdade. Isto não é uma opinião: É UM FACTO!!! Cunhal e o seus “camaradas” (Vasco Gonçalves incluído) tentaram instalar uma ditadura (do proletariado), contra a vontade do tão “defendido” povo. As nacionalizações, as violações aos princípios da economia de iniciativa privada, o PREC, o Gonçalvismo, o Verão Quente, a insana descolonização, as perseguições políticas (sim, que as houve após o 25 de Abril), tudo foi sufragado por Álvaro Cunhal. A isto acresce que o mesmo estava perfeitamente consciente daquilo que era o regime soviético, ou por acaso desconhecia os Gulags de Estaline, a polícia política, o KGB, o fracasso dos “sovkhoses” e dos kolkhoses”, a opressão, a falta absoluta de Liberdade? De facto, as perguntas não se podem escamotear: o que seria o país hoje se as teses soviéticas não tivessem soçobrado?
Ora, é tudo isto, que parece estar a ser escamoteado. Não se podem esquecer os actos e os valores que, efectivamente defendeu.
É por isso que, neste dias, fica-nos o profundo contentamento de o país em que vivemos, ser muito diferente daquilo que algum dia os comunistas terão sonhado. Ao permitir que até os próprios inimigos da verdadeira Liberdade, sejam tratados da mesma forma que os seus maiores defensores. Esta é a superioridade moral da Democracia. E de todos os democratas.
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