Li com atenção a crónica do Sr Director do JN sobre o tema supracitado. Acredito que um Director de um prestigiado jornal tenha de ser o mais “diplomata” possível, sobretudo quando tem de falar de uma classe tão corporativista como é a classe jornalística. Um leitor não. Assim, gostaria de falar um pouco mais desses tiques, começando pelo essencial: grande parte da classe jornalística de Lisboa tem poucos conhecimentos do país real. É egocêntrica. Partindo do seu mundo para o geral. Tipo aqueles entrevistados (sobretudo na TV) do bom povo português que dizem sempre: “o povo português está contra…”. Falam como tivessem sido eleitos para representar o país. São a boa consciência da cidadania. Tipo Comissões de Utentes ou Movimentos de qualquer coisa. Na maioria dos casos, ninguém os elegeu, mas como não resistem a um microfone e a uma dose de protagonismo, falam por tudo e por todos. Não é este o meu conceito de democracia. Mas voltando aos “tiques”. Têm um bom conhecimento de Lisboa, do Algarve e Porto Galinhas. Ou Pipa. E parece que têm alergia a tudo o que é nortenho. Falam de “homens do norte”, “empresas do norte”, “clubes do norte”. O Norte parece que não é Portugal. Sobretudo o Porto. O que é de Lisboa é nacional. E bom! Não entendo este bairrismo e este provincianismo. Talvez seja porque muitos deles querem esconder as suas origens. Será? Confesso que para esta visão, também contribuíram (e muito) os chamados “aculturados”. Os que foram para a capital e ficaram deslumbrados. E, passado algum tempo, começaram a dizer: “aqueles gajos do norte…”. Para se integrarem. E o que dizer dos seus “lobbys”? Na recente compra da Global Notícias pelo empresário Joaquim Oliveira, levantaram-se as vozes do “tique” receosos que, mais uma vez, um “homem do norte” colocasse em perigo as “instituições” DN e TSF. Fosse o Dr Balsemão a comprar e estava tudo em boas mãos. Outra versão dos “tiques”: na abertura da Casa da Música, o Senhor Presidente da República deixou recados sobre os desvios da obra. O mesmo Presidente que condecorou os responsáveis pela Expo 98. Estamos a falar de um buraco financeiro superior a 100 milhões de contos. Viva a coerência! E já agora: qual foi o desvio do CCB? E das obras da Linha do Oriente do Metro de Lisboa? E quanto vai custar o “buraco” da Estação do Terreiro do Paço? Não faz mal. São obras nacionais. Mais uma vez, não são os únicos culpados. A mentalidade portuense também ajuda à festa. Todos têm de ter uma opinião. Todos sabem de obras. Todos sabem de arquitectura e de gestão urbana. Enfim, qualquer mudança no seu quotidiano é um drama e deve ser ferozmente posta em causa. O que se passou recentemente com a requalificação da “maravilhosa” Avenida da Boavista diz tudo. De Boavista, nem o nome. Por mim, e não levem a mal alguma ironia, não mexam nesse ex-libris que é a nossa Avenida da Boavista. Aquela magnífica pista central, onde o Engº Nuno Cardoso “enterrou” (dizem) 300 mil contos; os passeios largos (quando existem) e bonitos; a fluidez do trânsito; a ausência de estacionamento selvagem. Um regalo para os olhos. Para não falar do troço, entre o Bessa e a Rotunda. Perante tal beleza, dá para entender os que queriam a Casa da Música no Parque da cidade. Ainda se lembram? Visionários. Por último, e aqui os “tiques” já são mais alargados: a (tentativa) da imposição do “pensamento único”. Esta corrente, liderada pelo “triângulo” SIC – TSF – Público (ou Expresso, conforme as conveniências), tenta impor aos cidadãos uma opinião pública generalizada sobre determinados assuntos. Alguns deles acessórios, mas que eles acham que devem ser encarados como prioritários. Só porque vão de encontro ao pensamento de muitos jornalistas e do seu “círculo de amigos”. Exemplos do pensamento único:
1 – O Presidente do Estados Unidos é o mal de todos os males;
2 – Terrorismo…? É uma consequência do mal americano;
3 – Berlusconi? O alvo a abater;
4 – Pinochet? Um ditador. Fidel Castro? Um castiço;
5 – O 25 de Abril é uma exclusividade da esquerda;
6 – A Festa da Música e outras manifestações culturais de Lisboa, fortemente dependentes dos subsídios (leia-se: dos nossos impostos): uma obrigação do Estado;
7 – Casamentos entre homosexuais? Uma obrigação da Igreja!
8 – Mário Soares? Intocável.
9 – Francisco Louça e o Bloco? Sábia opinião sobre tudo;
10 – Lisboa / Dakar – fundamental para a imagem do país;
11, 12, 13, 14, 15……6 000 000 - Viva o Benfica!
Já reparam quantos colunistas existem? E quantos têm um pensamento de esquerda? Eu sei que “apenas” temos 31 anos de democracia, mas pelo andar da carruagem apetece dizer: NÃO APRENDERAM NADA COM A DITADURA!? Liberdade de expressão é isso mesmo: ter o direito a uma opinião. Mesmo que seja diferente. Mesmo que seja contra o aborto, contra os casamentos “gay”, contra o Dr Mário Soares, a favor da Monarquia, etc, Em Portugal, quem tiver estas opiniões, é “perseguido” ou ignorado. Mas pode falar. Viva a liberdade!
NUNO ORTIGÃO (novo Nortadas)
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