quarta-feira, maio 04, 2005

O TRATADO CONSTITUCIONAL DA UNIAO EUROPEIA II

Gostava de estar tão tranquilo como o meu querido amigo João Anacoreta Correia a propósito do Tratado Constitucional. Infelizmente não estou. Devo dizer que não li o Tratado, conheço-o da comunicação social, mas, à partida, não tenho a menor simpatia por constituições extensas, densas, programáticas, restritivas e hiper-reguladoras.
O meu problema nem sequer é a falta de qualquer menção à nossa herança cristã no plano religioso, social e cultural (se calhar, queira-se ou não, uma raiz fundamental da identidade europeia). Isso é, apenas, mais um sinal das dificuldades que o cristianismo enfrenta hoje na Europa. Não se pode ser cristão, isso é mal visto pela cultura europeia dominante. Um cristão é um fundamentalista e só pode manifestar a sua fé na sua intimidade, sob pena de estar desqualificado para desempenhar cargos públicos. O curioso é que isto só se passa com os cristãos. Nestes tempos de multiculturalismo, há liberdade para se ser muçulmano, hindu, budista, animista, o que se quiser, e toda a gente presta o maior dos respeitos. Tudo isto é muito certo, cada um tem as suas escolhas. Ser cristão é outra coisa, principalmente se se for católico. Ainda há dias li numa revista inglesa um artigo escrito por um ateu, que considerava que o cristianismo é a religião mais atacada do planeta e, no mundo ocidental, é mesmo a única a ser "perseguida". São sinais dos tempos.
Mas, dizia eu, embora gostasse da referência, não me incomoda que o preâmbulo da Constituição europeia nada diga sobre a herança cristã do continente. O que não tenho a certeza é que a Constituição seja benéfica para Portugal comparando com o actual estado de coisas. A continuação do processo de diluição da importância dos Estados, independentemente da sua dimensão ou população, afectará com certeza a capacidade de afirmação de Portugal. Dir-me-ão que a mudança é inevitável e que a alternativa é muito pior. Será? Se os vários referendos chumbarem a constituição virá aí o caos? Os defensores desta ideia têm muito pouca esperança na democracia e na capacidade dos políticos europeus adequarem os seus passos em frente às pernas das populações que governam. Vou-me interessar mais pelo tema e espero que as minhas dúvidas se dissipem para poder afirmar, sereno e racional, que me inclino a votar sim.

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