quarta-feira, maio 04, 2005

O perigo amarelo

O Manel das rolas tinha uma “fábrica” na garagem de sua casa, corriam os anos setenta, e o empresário fazia ti-xârtes para a Europa.
Com o tempo teve que fazer um prolongado, não para meter umas máquinas, mas para caberem mais umas mulheres arrancadas à lavoura, e uns rapazitos que andavam por ali sem fazer nada, já que não iam à escola, ao menos levavam uns cobres aos Pais.
Com a ajuda do primo Joaquim, presidente da concelhia de um dos partidos do centro, e vereador, a “fábrica” vai aumentando.
O nosso empresário passa também a fazer peúgas e cuecas, a “fábrica” vai de vento em popa, ainda para mais começam a chover uns subsídiosinhos para modernização.
Claro que a modernização foi efectuada, na sua vivenda, estilo maison, no seu Mercedes, e claro no cabriolet do filho.
O Manel das Rolas pode só ter a quarta classe, nunca saiu de Portugal, a não ser naquele Agosto em Torremolinos, pode não perceber nada de economia ou gestão, mas sabe perfeitamente que se há-de vestir sempre meias e cuecas. Por isso escusam de vir engenheiros da cidade ensinar o que quer que seja ás pessoas que criam riqueza e emprego, nós os empresários se sucesso estamos cá para durar.

Entretanto os anos vão passando, e Manel das Rolas, já Comendador, vai investindo o dinheiro, cada vez menos produto do seu trabalho, e cada vez mais de subsídios e ajudas, na sua conhecida casa da Quinta do Lago, onde, em Julho, costuma dar a célebre festa do chouriço assado.
O seu filho e sua mulher, oriunda de uma família “tradicional”, são figuras incontornaveis do jet-set, os Rolas estão no centro do Mundo.

De repente aparecem os Chineses, com meias e cuecas 80% mais baratas.
80% !!! como é que é possível, ainda por cima com um desenho mais atraente e linhas de escoamento bem trabalhadas.
A “fábrica”, velha, e sem máquinas, fica sem uma única encomenda. Sem dinheiro, totalmente descapitalizada, não tem outro remédio se não atrasar o pagamento dos ordenados. Passam-se 6 meses, apenas seis meses, e a fábrica fecha.
Para os trabalhadores, é o calvário do costume, ainda tentam ficar uns dias à porta da fábrica, mas não adianta nada, já está tudo em nome da ImoRolas, empresa criada pelo filho do Comendador.
A ImoRolas vai em breve fazer um condomínio privado nas antigas instalações da fábrica, a Quinta das Rolas, com Health Club, Courts de Ténis, e lavandaria.

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