segunda-feira, abril 11, 2005

ESPANHA, ESPANHA, ESPANHA

Em entrevista ao "El Pais" o nosso abençoado Primeiro Ministro referiu que as três prioridades da sua política externa (quero crer que se estava a referir exclusivamente à chamada "diplomacia económica" e não à política externa em geral) eram: Espanha, Espanha e Espanha. Não sei que sentido estratégico queria o PM emprestar a esta nova prioridade, mas supostamente o objectivo prático seria o de atingir a paridade nas trocas comerciais. Não tenho nada contra o propósito em si. Só que me parece que a ordenação de prioridades anunciada não é economicamente vantajosa, nem sequer viável, e é, a todos os títulos, politicamente errada.
Tanto mais que, dizem-me, ainda há dias, na sequência do anúncio de que a plataforma logística dos produtos brasileiros na Europa se iria situar em Espanha, o Governo teria dito que isso não seria grave, era um problema das empresas.
Infelizmente, à míngua de méritos próprios, a nossa afirmação no âmbito da UE tem de se basear (como historicamente sempre sucedeu) na nossa capacidade de funcionar como alternativa a Espanha, evitando a transformação numa região acessória. Um dos poucos trunfos de que dispomos, apesar de não ser nenhuma manilha, são precisamente as nossas "relações fraternas" com o Brasil, ou o que resta delas. Não é admissível que se desperdice a possibilidade de sermos um parceiro privilegiado do Brasil nas suas relações com a UE. Zapatero compreendeu a importância fundamental desta posição e não poupa esforços para seduzir o Brasil (e o Presidente Lula). Ao contrário do nosso Governo, Zapatero viu bem que o vigor de Espanha na UE depende dos laços económicos e diplomáticos de que se disponha fora dela.
Lamento que o Governo esteja desatento, concentrando-se na árvore e não na floresta, que a sua estratégia seja tão redutora e ingénua. A Espanha agradecer-lhe-á.

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