segunda-feira, março 21, 2005

Refundaçao da direita e eficacia eleitoral

Tem-se falado muito da refundação da direita, tema que é recorrente, naturalmente, quando ocorre um desaire eleitoral. Normalmente esta discussão, quando é feita a partir da direita, assenta num objectivo nuclear: o regresso aos princípios, à pureza ideológica, afinando-se uma matriz doutrinária. Não creio que, do ponto de vista eleitoral, o problema seja esse. Essa receita, se calhar infelizmente, levaria a um resultado ainda mais catastrófico. Em Portugal, a direita ideológica nunca teve sucesso eleitoral (nem terá, atrevo-me a dizer). O que, de resto, bem se compreende, considerando a enorme distância que separa, bem ou mal, o país dessa direita. A refundação ideológica é, do meu ponto de vista, aquilo que menos falta faz neste momento à direita. A direita eleitoral é constituída por uma federação de diversas identidades e valores culturais, sociais, económicos e até "cristãos" (não num sentido religioso ou confessional, até porque a generalidade dos opinion makers ligados à Igreja Católica não são manifestamente de direita). Este caldeirão de eleitores não comunga, creio eu, de uma ideologia comum. Para acolher este eleitorado que simplisticamente podemos caracterizar de direita, o fundamental não é o apuro ideológico, mas os protagonistas. Isto não é uma característica portuguesa, como se vê pelo que se passa com o Partido Conservador no Reino Unido, cuja incapacidade em se afirmar, mesmo quando o vento sopra de favor, resulta da inexistência de líderes adequados aos tempos. É por isso que a questão da liderança do CDS tem uma enorme importância, tanto mais que os candidatos que se anunciam no PSD não são particularmente entusiasmantes. O CDS não pode desistir de agregar o eleitorado de direita, até porque com o tempo os constrangimentos que impedem muitos dos eleitores do PSD de votar no CDS acabarão por se atenuar. O problema da direita e do CDS em Portugal não se resolverá tão cedo com lideranças transitórias ou frágeis, ainda que bem marcadas ideologicamente. A oportunidade não se pode perder.

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