Do jornal Público, embora bem-vindo, não apaga o dano infligido. O sinal que transmitiu foi que ninguém tem o direito de se abster de emitir uma opinião. Realmente Cavaco é uma instituição: é concedido valor declarativo expresso ao seu acto silente!!! Porque, note-se, a notícia foi apresentada como um "furo" jornalístico...! Não um mero apontamento noticioso (o que, para o caso, já seria demais).
A isto acresce algo mais preocupante: a vontade consciente dos "media" em determinarem o rumo dos acontecimentos. É alarmante que na própria nota da direcção se diga: Contudo, ao falar das intenções de Cavaco Silva sem que este tivesse tomado qualquer posição pública, a notícia permitia um desmentido nos termos do de ontem. . Decifrando: utilizando a insinuação obrigamos Cavaco a pronunciar-se sobre as eleições legislativas; somos tão competentes que não nos bastamos em divulgar notícias, nós criámos notícias.
É de pasmar.
E ainda por cima, o comunicado tem o desplante de afirmar que a notícia, recheada de boa fé, permite um desmentido do visado! Francamente!!!
E se isto acontece no Público, então.....!!!
O caso é paradigmático do papel dos jornalistas na sociedade actual. Não se acham meros espectadores, crêem-se verdadeiros protagonistas. Os meios de comunicação social servem intuitos, ao mesmo tempo que se arrogam de independentes para, assim, credibilizarem a informação que veiculam e dissimularem a chaga que lhes está latente. Aliás, sintomático e revelador de toda esta situação é o auto-protagonismo que se concedem mutuamente jornalistas e afins. A corporação funciona e não finge. De resto, o sucesso do modelo "político-comentador" protagonizado magistralmente por Marcelo Rebelo de Sousa e secundado por Pacheco Pereira, bem como pelos dois candidatos a primeiro-ministro, encontra aqui toda a sua explicação.
Vive-se dos e para os "media".
Porque a saúde do tão falado regime político - agora tão posto em causa - também passa por aqui, impõe-se repensar o jornalismo que temos hoje.
Pretextos, pelos vistos, não faltam...!
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