quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Da banca como uma das belas artes

O sector bancário voltou a estar no centro das atenções no debate de ontem com os candidatos a primeiro-ministro. Tudo por causa do papel 'engendrado' por Francisco Louçã, segundo o qual o Estado teria aberto mão de uma molhada de euros (2,5 milhões mais propriamente) no caso da fusão do grupo Santader. O actual primeiro-ministro explicou, um pouco mais tarde, não existir qualquer ilegalidade. Mais tarde ainda, o director do Jornal de Negócios, Sérgio Figueiredo, explicou o que Santana Lopes não tinha explicado: a capacidade de o grupo Santander pedir, e conseguir, a escusa do pagamento de emolumentos, impostos de selo e o que mais deveria pagar fica a dever-se ao facto de a lei vigente ser tão complicada e difícil de aplicar que o Estado decidiu optar - para todos os sectores e não apenas para a banca - por criar o benefício da escusa de pagamento. Fica assim a saber-se que, perante uma lei que envolve a entrada de dinheiro para os cofres do Estado mas que é difícil de aplicar, o Estado opta por livrar os potenciais pagadores do pagamento, ao invés de simplificar a lei. É bonito e é concerteza para o bem de todos, dado que todos nós podemos um dia ver-nos na situação de querermos fundir os nossos interesses empresariais numa nova SGPS. Sem comentários.
Do debate - e do debate sobre o debate - fica também claro que a banca é um sector moderno porque a concorrência é a palavra de ordem. Pena é, como vem sendo costume, a falta de memória dos portugueses. No início do processo de reprivatizações, uma das discussões mais acaloradas de então, corria em torno da bondade da privatização da Caixa Geral de Depóitos (CGD). Todos, quase sem excepção, achavam que a CGD devia ser privatizada (no caso, não podia dizer-se reprivatizada, como recordarão). Estranhamente, era o sector bancário que não queria. Percebeu-se mais tarde (e ainda agora) porquê: porque a CGD é uma espécie de caixa-forte (recheada com dinheiros públicos) a que o sector bancário recorre sempre que se encontra em dificuldades. É por isso que o BCP vendeu o seu miserável negócio dos seguros à CGD; é por isso que o BPI ainda há pouco tempo se queixava de a CGD ter mais capital do BCP que do BPI, como se isso fosse uma pouca vergonha; é por isso que é na CGD que os empresários de qualidade duvidosa vão buscar capitais alheios sempre que avançam com estratégias de perspectivas obscuras. É por isso que os debates, os debates dos debates e os debates dos debates dos debates são uma zona do sono a que, infelizmente, os portugueses não ficam indiferentes.

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