quinta-feira, janeiro 13, 2005

Sarmento, S. Tomé e o Príncipe

As hostes mediáticas e políticas cá do burgo andam numa roda viva, plena de gozo e deleite, com o "affaire" do momento : o caso da viagem do Ministro da Presidência. Ora, convenhamos, estando nós em clima de pré-campanha, tal facto foi aproveitado para, uma vez mais, desferir rudes golpes no Governo demissionário e, assim, instrumentalmente, condicionar as eleições que se avizinham. Tal polémica não dignifica ninguém, e não beneficia, sequer, qualquer das partes. Desde logo os meios de comunicação social, deixaram-se enlevar por uma polémica estéril, que não trás qualquer valor acrescentado ao discurso político. A sua relevância efectiva existe, todavia é uma relevância invertida uma vez que vem relevar a faceta espúria do debate político.
Como é que um país que todos os dias se automutila no murmúrio plangente da desesperança, permite que os seus actores encenem uma tão pouco edificante cena? Numa altura tão decisiva como a que vivemos, não deveríamos perder tempo com guiões de opereta. É necessário que o debate público se enriqueça, e dê prioridade às grandes questões que se nos defrontam. Na verdade, nada disso constatamos, antes assistimos impotentes a uma depressão nacional, verdadeiramente autofágica. É preciso cortar o círculo vicioso. Definitivamente.
Contudo, é curioso notar que esta criação de estufa de "não factos" em factos de supina relevância política e social, não é apanágio nosso. No Reino Unido a foto do Príncipe Harry numa festa de disfarces onde ostentava uma cruz suástica, provocou ondas de choque . Como é possível??? Tal facto demonstra que não existe o mínimo de decoro por parte da imprensa e que o público assiste acéfalo ao desfilar de verdadeiras campanhas de caça ao lucro: quantos mais exemplares terá vendido o The Sun. Desde logo, partir para a crítica do facto é assumir que o disfarce era um elogio. Ora, a festa pretendia ser uma "carnavalada", donde o sentido não pode ter sido mais pejorativo. Por outro lado, a festa era privada, não se tratava de nenhum acto oficial ou para-oficial.
Numa palavra, a manipuladora vertigem mediática adicionada ao interesseirismo politiqueiro rasca, torna-se um "cocktail" terrivelmente venenoso. Que arrasta consigo uma paulatina deliquescência do espaço público.

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