Não gosto especialmente do Dr. Miguel Cadilhe, não partilho das suas tentações regionalistas, nem me parece que o seu low profile à frente da Agência Portuguesa para o Investimento (API) seja especialmente valorizante do trabalho da estrutura. Mas é absolutamente inadmissível que um economista com o perfil, a carreira e os conhecimentos de Miguel Cadilhe esteja a ser trucidado pela máquina governativa - e em especial pelo ministro José Luís Arnaut. Já se sabia que o senhor destila ódio como quem sua no pico do calor de uma tarde de verão; já se sabia que Durão Barroso o olhava com enorme desconfiança e que pretendia mantê-lo por perto apenas para lhe controlar as maluqueiras (é essa a explicação para as suas andanças no governo); o que não se sabe ainda é quem o que o ministro pretende colocar no lugar de Miguel Cadilhe - pois que é exclusivamente disso que se trata.
A carta que o ministro enviou ao colega Álvaro Barreto não passa de um memurando que podia ser oral - e que era suposto ser oral. O documento só serviu para, na quinta-feira passada, o seu gabinete de imprensa ter conseguido colocá-lo nas redacções de pelo menos três jornais de referência. Como se fosse uma novidade para cada um deles (um dos jornais até colocou o assunto na primeira página). Acrescente-se que nenhum dos jornais sabia da existência da carta até ao momento em que o referido gabinete dela falou como se nada fosse, tendo o seu conhecimento sido franqueado de imediato às redacções, como se fosse normal o ministério dar a conhecer os seus documentos internos.
Mas há mais: antes de os jornais terem recebido a carta via fax, elementos de outro instituto ligado ao Estado - e ao sector automóvel - fizeram um périplo telefónico pelas redacções para alertar para a existência de novos problemas entre a API e os seus parceiros galegos num projecto comum. Na mesmo semana, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte conseguia que o seu presidente - João Sá, um tipo qualquer sem curriculo que se veja - desse duas entrevistas a outros dois jornais. Uma delas não tem importância nenhuma, mas a outra serviu para queimar um pouco mais Miguel Cadilhe.
É assim que as coisas se vão fazendo neste país de atrasados mentais. Resta agora saber quando é que o Governo admite ter deixado de confiar politicamente em Miguel Cadilhe. Porque o senhor vai mesmo ser despedido.
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