domingo, maio 24, 2009

A desordem na Ordem (2)

O mundo dos advogados portugueses anda agitado.
O Bastonário da Ordem não perde uma oportunidade para agarrar um microfone e despejar lixo e insultos. Quando se lhe pede que passe ao concreto, defende-se alegando que não é um bufo e que apenas denuncia situações.

Confesso que, ao princípio, até lhe achava graça e pensava cá para mim “ora aqui está um sujeito que não se engasga”. Admitia mesmo que este bastonário fosse uma espadeirada na opacidade de interesses e de conivências que grassa entre certos escritórios lisboetas e o poder. Aliás, ainda me recordo de uma zanga de comadres entre o estaminé do Júdice e a fabriqueta jurídica do Sérvulo Correia, a propósito de uns concursos públicos, bem reveladora daquele sub-mundo de co-sócios da mesa do orçamento do Estado.

Mas com o tempo e na proporção geométrica de cada declaração do Dr. M. Pinto, fui-me convencendo de que há aqui um sério problema de casting e que a personagem, em vez de tomar medidas reais para pôr ordem na Ordem, tem afinal uma outra agenda que não passa pela representação da classe nem pela melhoria do nosso sistema judicial. A preocupação central do (ainda) bastonário é outra: fazer uns fretes ao “engenheiro”.

Senão vejamos:
1. O processo Casa Pia é, no seu entender, uma cabala contra o PS;
2. O caso Freeport é, no seu entender, uma conspiração contra o governo;
3. A TVI e a Manuela Moura Guedes são, no seu entender, o exemplo acabado do jornalismo de “sargeta”;
4. O Lopes da Mota não tem de se demitir, embora, se fosse ele, o Dr. Pinto renunciaria.

O Dr. M. Pinto tem todo o direito a ter opiniões, por muito erradas que sejam. Mais, o Dr. M. Pinto tem mesmo o direito de ter sempre as opiniões que interessam ao poder instalado. Mas o Bastonário da Ordem não pode instrumentalizar o Boletim da Ordem nem as intervenções institucionais de que é protagonista para nelas misturar as suas opiniões politicas, pois é de política que se trata. E é esta não separação de águas que lhe retira toda a legitimidade para continuar aquelas funções.

Quanto ao resto, ou seja, o seu estilo trauliteiro, o seu gozo em fazer escândalo, a sua ambição de amordaçar as estruturas regionais da Ordem, o seu prazer em agredir o Presidente do Conselho Geral, o seu escárnio face aos seus opositores, a sua paranóia de “sózinho contra todos”, enfim, o seu circo, fazem parte da imagem quixotesca que pretende criar: a de ser um david destemido (e vitimizado) a gladiar-se contra os golias da corporação. Em duas palavras, populismo e demagogia.

Dois esclarecimentos finais: não aprecio particularmente o estilo agressivo e por vezes provocatório da Manuela Moura Guedes, mas considero inaceitável e vergonhoso o enxovalho que o (ainda) bastonário lhe arremeçou. Não estou inscrito na Ordem e, em última anàlise, a sua cozinha interna não me diz respeito, mas tenho filhos que ainda acreditam que ser jurista em Portugal pode ser uma profissão honrada e custa-me ver-lhes esmorecer essa esperança .

9 comentários:

  1. temos: custas mais caras

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  2. temos: IGFPJ a atrasar-se em entrega dinheiro às partes e honorarios a defensores e sem juros

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  3. temos processos mais morosos,

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  4. temos avalhanches legislativas que só complicam, desjudicialização, leis e portarias feitas mal e à pressa

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  5. temos poucas iniciativas para melhorar a formação e estagios

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  6. temos protocolos com autoridades aministrativas em Lisboa e com remunerações a advogados a preços reduzidíssimos

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  7. mas vamos ter ferias, mais ferias judiciais, enfim....

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  8. e que dizer quanto aos direitos por ex do novo big brother-Sistema de Identificação Electrónica de Veículos - SIEV ?

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  9. de todos os comentarios ainda não li nenhum que afirmasse que o MP não disse verdades; será que são tudo mentiras; caso afirmativo os eventuais lesados que lhe movam uma accção por difamação a

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