A propósito desta chamada "crise dos migrantes", apetece-me partilhar algumas reflexões. Fiquei surpreendido, mas agradecido, pela liderança assumida pela Chanceler Merkel nesta matéria. Surpreendido porque não contava que ela assumisse uma posição tão clara e tão corajosa, numa matéria onde não era evidente que teria o apoio da maioria das populações.
Fiquei ainda surpreendido porque não esperava a reação de solidariedade que se lhe seguiu, um pouco por toda a Europa.
E agradecido, porque não tenho dúvidas de ser este o único caminho para um cristão. É evidente que as causas que estão na origem deste fenómeno devem ser estudadas e compreendidas, para poderem ser combatidas e, oxalá, um dia eliminadas.
Mas a sua existência e a eventual cumplicidade do Ocidente não invalida o fenómeno interpessoal que provoca: milhares de pessoas vêem-se obrigadas a abandonar casas, posses e familiares para tentar uma vida melhor, por vezes apenas uma vida decente.
Não há como não responder presente e apoiar na medida do possível a acolher essas pessoas.
Por outro lado, espanta-me e desagrada-me o que se passa na Hungria. Certamente haverá muitas razões locais para o explicar, mas há uma que me interessa destacar: a posição dos líderes hungaros, pelo contraste com a da Chanceler Merkel. E o que provoca, ou liberta, de desumanidade entre os cidadãos.
Entre as duas posições não creio que possa haver sequer escolha, para um cristão, pese embora os riscos que lhes estão associados. Certamente que a integração destes milhares de pessoas colocará desafios que terão de ser inteligentemente ultrapassados, para evitar que se materializem em desintegrados, excluídos e revoltados, com todas as consequências que isso poderá trazer.
Mas convém não esquecer que a desumanização do outro por interesses egoístas sempre conduziu à materialização de riscos muito maiores e de piores consequências, na pior das hipóteses, a guerra...
Além disso, há um princípio que me rege na vida e que espero nunca esquecer: perante imperativos morais, não se pode hesitar, sejam quais forem os custos. E neste aspeto particular, agradeço à Chanceler Merkel o exemplo, a clareza, a visão e a força.
Meu Caro
ResponderEliminarSobre a questão de fundo apenas duas observações:
1. Não creio que os refugiados políticos, ao contrário dos refugiados económicos, procurem uma vida melhor, mas tão só uma vida.
2. Um não cristão como eu pensa do mesmo modo.
Mas o ponto que me fez vir aqui teclar é a sua surpresa com a posição da Chanceler Merkel.
Nos países do sul, em particular Portugal, Grécia e até Espanha, a comunicação social encharca-nos contra a aí apelidada de "Senhora Merkel".
Mas eu gosto da Sra. Merkel e já por duas vezes (correndo o risco do politicamente incorrecto) aqui a vim defender. Pessoalmente considero que é a líder europeia que mais firmeza tem demonstrado na defesa do euro e da própria europa. No que também é evidente ter de obter difíceis apoios, em particular junto do seu parlamento e da sua própria população.
A sua posição face à presente crise de refugiados está pois para mim perfeitamente em linha como o seu pensamento e o seu estilo de liderança política.
Razão por que em nada me surpreendeu.